Diários da Luz Eterna - Parte I "Comprometimento, Disciplina e Consistência" e Parte II "Névoa, Essência e Brutalidade"

 


Comprometimento, Disciplina e Consistência - Parte I

Por estes dias parti com minhas aprendizes Blinde e Giray para Berguen, terras da Luz Eterna. Connosco estava também Jágua, aprendiz de Mestre Sarah, que nestes dias seria nossa companheira de viagem.

Em Berguen é luz durante todo o dia. É a terra onde o sol nunca se põe. Fica para lá do horizonte, é uma terra de Deuses Místicos, lendas da noite que nunca acontece e de histórias do antes do tempo que contamos.

Viemos passar uma temporada com Mestre Olav, também apelidado de Mestre da Luz pelas suas capacidades de manipular o poder da Luz transformando-a em energia. É um Mestre contador de histórias que nos treina a imaginar as nossas novas histórias através dos seus exercícios criativos e meditativos.

Logo no primeiro dia, Olav levou-nos até à Fenda de Gerainger. A subida é vertiginosa, mas lá de cima o teu coração muda de pulsação. O tempo pára. A casa dos Deuses Míticos de Berguen revelasse perante nós. A Fenda dá origem a um extenso braço de água que abre caminho por entre montanhas escavadas a verde luminoso com os cumes cobertos de neve. A neblina termina com retoques de perfeição aquele quadro mítico, único e que nos derruba perante tanta beleza.

Olav conta-nos que foram precisos milhões de anos para este cenário acontecer. Ele comparava o caminho que a natureza fez para revelar a Fenda de Gerainger ao de um aprendiz para se tornar Mestre. Ele partilhava:
- Foi preciso uma eternidade para que esta beleza fosse possível. E para nós humanos a eternidade é um tempo difícil de compreender. Esquecemos todo o caminho que fizemos. O teu caminho é como os ciclos da natureza. Sem comprometimento nunca começas, sem disciplina não continuarias, sem consistência nunca acabarás.



Névoa, Essência e Brutalidade - Parte II

Terceiro dia por Berguen. Hoje Olav iria levar-nos até à montanha de Oden. De cima somos capazes de ver os cinco Vales Místicos. Conta a lenda que Berguen em tempos foi habitada por cinco deuses. Os chamados deuses da Luz Eterna. Em conflito, os cinco deuses chegam a um acordo de paz dividindo o território de Berguen nos cinco Vales Místicos, cada um dominado por um deus da Luz Eterna diferente. O cenário é uma brutalidade. Aliás, em Berguen os cenários são saídos de um sonho quase perfeito. Era como se todos os grandes pintores e poetas se tivessem juntado para dar corpo a esta cenário mágico.

A vista é deslumbrante. Como sempre a névoa fazia o cenário mais intenso e aproximava-nos do céu.

Olav convidou-nos a sentar e a meditar durante horas. Pediu que ouvíssemos a voz da montanha, que sentíssemos a sua essência. Fechamos os olhos e deixamos que os sons da montanha nos guiassem. Pouco a pouco, perdi noção do tempo. Era como se a minha alma conseguisse planar por entre os vales.

Após o exercício, Olav pediu que escrevêssemos no nosso diário o que tínhamos vivido. No meu diário estas foram as minha palavras:

"Quando nascemos não sabemos nada sobre ser, ter, fazer, esconder, interpretar, aprender, realizar. Somos um estádio bruto de névoa e essência.

Com o caminho ensinam-nos as regras, as maneiras, o absurdo, o estádio lunático de sermos donos de algo que não sabemos muito bem o que é.

A determinada altura deixamos de procurar as origens. Perdemo-nos a ver qual a próxima fonte, qual a próxima montanha que achamos ter de subir, qual o próximo muro que de alguma forma temos de derrubar. Inventamos doenças, adversários e abismos que nos olham de volta.

Então morres e voltas ao mesmo estado que te viu nascer, a brutalidade da névoa e da essência. E perguntam vocês, o que é a névoa e a essência?

A névoa é a tua armadura e a essência a verdadeira fonte de fé que te permitiu fazer o caminho selvagem entre a vida e a morte..."

Estava noutra dimensão e as minhas palavras revelavam o estranho e eufórico estado de espírito em que me sentia.