Diários da Luz Eterna - Parte V "O Ki, a energia viva que dá forma ao nós universal"


Estávamos nos últimos dias por Berguen, terra do 5 deuses da Luz Eterna. Como partilhei convosco nos últimos capítulos, este é um território perdido numa beleza absoluta, uma terra em que os deuses gastaram todos os recursos que tinham e deram origem à sua mais original obra prima. Berguen é o capítulo final de uma história em que homens e deuses deram origem à verdadeira coexistência e a um pacto que permite à natureza prosperar sem restrições. Era o poema mítico que eu achava que ainda não havia sido escrito.

Nos últimos dia Olav levou-nos até Geilo, terra da Alvorada Eterna. Por aqui parece que o Sol está sempre a nascer. Está meia luz todo o dia, num avermelhado garrido que nos hipnotiza. 

Levou-me até ao topo de mais uma montanha. Aquele estranho vermelho luminoso indicava o caminho. Desta vez estava só eu e Olav. Giray, Blinde e Jágua tinham ficado na estalagem onde estávamos hospedados.

Sentamo-nos e perguntou-me o que achava e havia sentido na sua terra natal. Partilhei o quão absurdo era este sítio por tudo parecer no lugar certo à hora certa. A conversa, inspirada pela experiência que havíamos vivido por estes dias, acabou por deslizar para o que realmente acreditamos e como encaramos a nossa espiritualidade.

Olav perguntava:
- Amigo, quando te perguntam no que realmente acreditas, o que respondes?
- Essa é uma das perguntas mais difíceis de responder. A minha crença foi evoluindo ao longo dos tempos. Mas respondo-te o que fui aprendendo. Acredito que não existe o meu eu ou o teu eu. Existe um nós. Um nós universal que congrega a natureza, os astros, as emoções, as pessoas, resumidamente toda a energia viva. Acredito que somos Ki, energia viva, e que tudo o que fazemos serve para equilibrar ou desequilibrar essa energia. Para que todos tenhamos espaço e lugar no nós universal, é fundamental compreender que tudo o que somos e fazemos interfere no equilíbrio do Ki. Assim, temos de ser, todos os dias, o melhor que podemos e sabemos com o tempo e recursos que temos. Quando descobrimos o nós universal percebemos que começamos todos os dias, percebemos o quão frágil somos, percebemos que todos somos o todo. Mas, voltando à pergunta inicial. No que realmente acredito? Acredito que somos enquanto que não nos esquecemos de ser. E aí percebemos que para ter de ser somos sempre todos, no bom e no mau, no belo e no feio, no completo e no incompleto, no fazer e não fazer, mas sobretudo no fazer acontecer.

As minhas últimas horas em Berguen tinham chegado. Milénia era a minha casa sagrada, aquela a que chamo casa simbólica, mas Berguen tinha-se tornado numa das minhas casas do coração.