Comunicar a Humanidade – Em que campo de batalha pretendo estar?


Comunicar é um acto universal, presente sob todas formas, enquadrado em todos os contextos. Comunicar assume-se como uma das funções essenciais do ser humano, não só como um imperativo de socialização, mas como ferramenta de construção conjunta, partilha de saber e “alimento da alma”.
Partindo do seu sentido etimológico a palavra "comunicação", derivada da palavra latina "communis", significa tornar comum.
Tendo como pano de fundo a evolução tecnológica dos últimos anos, bem como uma antecipação do que pode ser o futuro, somos levados a pensar que cada vez mais nos aproximamos do conceito de “aldeia global” de MacLuhan, no que à comunicação diz respeito. Considero, e podemos verificá-lo um pouco por toda a parte, que as grandes transformações de carácter social que têm vindo a acontecer entre os finais do passado século e início desta década, só são possíveis devido à existência de novos fenómenos comunicacionais como a Internet, a massificação dos telemóveis e computadores portáteis ou as novas plataformas digitais (Ex.: serviço de televisão, internet e telefone por cabo; redes sem fios, televisão em alta definição, entre outras).
Mas o que é afinal este processo tão essencial que designamos como comunicação?
Comunicar significa tornar comum, estabelecer comunhão e participar na comunidade através da troca de informações. Em todas as suas formas, comunicar envolve sempre um processo de transmissão e recuperação da informação, e onde quer que aconteça, tem quatro elementos básicos da praxe: emissor, receptor, canal e mensagem.
Comunicar ganhou contornos de arte e quem a domina as suas lides é uma espécie de novo poeta. Comunicar tornou-se numa “técnica de combate e de guerrilha”, utilizada como estratégia militar e política. Comunicar tornou-se tão óbvio como respirar que nos esquecemos de “como o fazer?”
Se há uns anos era um luxo ter acesso a um computador portátil, hoje estranhamos o simples facto de não o termos. Basta passarmos por uma qualquer secção de informática de um qualquer hipermercado para verificarmos que os “antigas caixotes” de pelo menos 5 kg, que exigiam ainda a compra de monitor, teclado e rato ainda lá estão, mas em muito menor número que os novíssimos, muito menos pesados e muito “mais em conta” computadores portáteis (em algumas situações, mais baratos, inclusive). Como se isto não bastasse, os programas governamentais “E-Escolas” e “Novas Oportuniadades”, mais que duplicou o número de portugueses com portátil com idade inferior a 20 anos, devendo este número quadruplicar até 2010 com quase 1 milhão de jovens portugueses com um portátil com acesso à Internet.
A própria Democracia tornou-se num processo interactivo (ok, concordo… não tão interactivo como isso…), feito ao minuto, com actualização de informação na hora através de todos os veículos possíveis. Uma intervenção de carácter político de um determinado partido tem resposta directa minutos após por parte do partido rival sem que, para tal, se tenham de encontrar.
O Zé, o Miguel, a Rita e a Sílvia falam, ou melhor, “teclam”, mas também podia ser “falar” (porque os programas informáticos de chat e interacção à muito que o permitem), durante horas sem terem que sair de casa.
Vou ao café, recebo um “sms” do Bernardo para ir ao meu mail e no mesmo instante (sem ser através do telemóvel) “saco” do meu mini (mini) portátil (vulgarmente conhecidos como “notebook’s”), abro a o email, descarrego o documento que me foi enviado, faço as alterações que entendi e reenvio. Pelo meio revi as notícias na internet, escutei a minha música favorita e organizei o arquivo de fotos que tirei a semana passada no Gerês. Tudo isto no café, sem ter de ir ao “caixote de 5 kg” perdido lá por casa. Mas como o fiz no café, também o podia ter feito na casa de qualquer amigo, são as maravilhas da internet sem fios e dos notebooks.
Sei que não estou a contar nenhuma novidade, já todos sabemos que é assim e não é novidade para ninguém que este processo só vai acelerar. E no meio desta tempestade cabe a cada um de nós escolher o seu próprio campo de batalha.
As novas formas de comunicação não são boas nem más, são o que fazemos delas. Elas ganharam forma com a intenção de servir o Homem, de lhe facilitar a sua existência e o elevar a outro nível. Por estes dias citava um grande amigo meu, o Animador italiano Stefano Bottelli relativamente a uma realidade adjacente a esta, a do Protagonismo Juvenil: “…o nosso trabalho (o dos animadores juvenis) torna-se importante quando percebes o que um jovem pode fazer com o teu poder e não o que o teu poder pode fazer a um jovem...”. Com as novas formas de comunicação, penso que é um pouco do mesmo, elas tornam-se importantes quando percebes o que podes fazer com elas e não o que elas te podem fazer.
Seria mais fácil estabelecer um discurso redutor e sisudo, enumerando os demais malefícios preconizados pelos novos fenómenos comunicacionais, mas limito-me, mais uma vez, ao real significado da Comunicação: “tornar comum; estabelecer comunhão; participar na comunidade através da troca de informações.”
Resumindo, comunicar é ser humano e tudo que a possa facilitar será sempre bem-vindo, cabe-nos a nós comunicar o mais “humanamente” possível sem perder o sentido do tempo, da presença, do que realmente somos e para onde estamos e queremos caminhar. Comunicar é um processo conjunto, um poema de sempre que permitiu dar forma ao que chamamos de “Humanidade”. Mesmo sendo um exercício complexo cabe a cada um, no seu processo de “Revisão de Vida”, simplificá-lo, dar-lhe substância, estabelecendo as suas próprias regras no seio do grupo em que está integrado (família, grupos de amigos, emprego, etc), não caindo no facilitismo de o ignorar ou na nostalgia de o fazer retroceder.