A Cidade com um milhão de anos...

Era uma vez uma cidade perdida
Sem nome, sem horizontes,
Sem história, sem linha do tempo.
Perdida por entre lendas,
Contada secretamente nos murmúrios dos antigos,
Recalcada mas memórias astrais de Bruxos e Feiticeiros.
Diz-se que não tinha nome
Porque ao mesmo tempo tinha muitos nomes
Pronunciados e desenhados de milhares de formas.
Contava-se que não tinha horizonte
Porque jazia num vale
Ainda mais perdido que a própria cidade.
Dizia-se que não tinha história
Porque as histórias eram tantas
E nenhuma delas conhecia um fim.
Contavam que não tinha linha do tempo
Porque ninguém sabia
Se ela alguma vez havia existido.
Os Antigos e os Sagrados
Sussurravam por estes dias
Que uma conjugação de astros
Que se aglomeravam de um em um milhão de anos
Apontaria o único caminho visível
A única centelha de vislumbre
Da cidade à muito esquecida.
Um viajante que por ali passava,
No meio de desditas e ténuas palavras
Procurou perceber o afinal de tanta intriga
E por entre lendas e discórdias
Perceber se cidade havia
E que histórias e horizontes ela guardava.
Os antigos, os bruxos e feiticeiros
Contradiziam-se e anulavam-se.
O afinal de cada um
Era poesia alheia para o outro.
A certeza de cada olhar
Esbatia em espelhos de alma ausentes.
Só numa certeza os chacras de alinhavam,
A resposta estava no céu.
Ninguém sabia se de noite ou de dia
Apenas que o horizonte procurado
Estava no além das estrelas e do Sol.
O viajante fitou o céu
Dia e noite
Estrela por estrela
Aurora por aurora
Tempo e tempo afim e...
Nada...
Depois de infinitas existências e quase a desistir
Uma criança que ali passava
Perguntou ao viajante
Se havia visto o seu barco.
Como ali nem rio nem mar
Ele pensou que o pequeno
Havia perdido o seu brinquedo.
Negou que algo tivesse visto,
A criança insistiu,
Descreveu a grandiosidade da embarcação
Mas o viajante voltou a negar.
A criança insistindo
Pede a este que a auxilie na busca.
O viajante nega esse tempo
Ele procura um objectivo maior,
A cidade esquecida pelos homens.
O mundo envelheceu
O Homem persistiu
E o viajante continuou à procura no céu.
Um dia, quase às portas de outro além
Qual não foi o seu espanto,
No horizonte horizontal e vertical
Vislumbrou um barco de sonhos
Gigante e Imenso
Com a criança do passado distante ao leme.
Num adeus pintado de agreste,
Foi aí que o viajante percebeu
Que havia tido o privilégio de um milhão de anos
Mas que a sua alma cega lhe havia negado.
Percebeu que não tinha tido tempo
Para a sua falta de tempo,
Tempo que agora acabava...
Numa última oração
Não pedia mais tempo,
Só implorava que os que amava
Resistissem mais um milhão de anos...