Diários de Kayseri, Parte III - "O dia das neves eternas..."

Dia 3... pela manhã discutimos os detalhes do projecto que nos trouxe por cá e preparamo-nos para uma visita ao Museu da cidade. Quando pensamos em museus, pensamos numa estrutura antiga ou pelo menos convencional, o Museu do município de Kayseri é uma especie de base da NASA, com uma configuração a convidar a nossa imaginação a contar os segundos para a partida do próximo foguetão... para quê palavras, fica a imagem...
A hora de almoço e o período da tarde foi um daqueles dias que ficarão para sempre na memória de quem procura ser "esmagado pela própria realidade", percebendo os recantos, as histórias e os detalhes da terra que nos acolhe. Este foi um desses dias esmagadores, que nos ultrapassa pela simplicidade e surpresa com que surgiu.

O Mustapha, amigo turco, decidiu levar-nos a almoçar para a sua casa perto junto ao lago. Até aqui nada de novo. O que não sabiamos é que nos esperava uma viagem sem ponto de comparação nas nossas ainda curtas vidas. Uma estrada em alcatrão meio solto indicava a direcção das montanhas (estamos a falar de mais de 3000 metros de altitude)... de repente o alcatrão dá lugar a uma caminho de terra e neve e continuamos a subir... entretanto o terreno estabiliza e o que vemos é um longinquo castelo no meio de quilometros de neve a perder de vista... o suposto medo de declive por entre as montanhas brancas dá lugar ao espanto... sempre quis ver os Himalaias, estar no topo do mundo, e sem entrar em comparações banais, a paisagem que vi assemelham-se ao "esmagamento que a tv nos transmite" das montanhas das neves eternas.

Andamos pelo menos 20 km por esta especie de caminho sem que qualquer outro transporte passasse por nós até que no meio de nada  havistamos um enorme lago, criado a partir de uma barragem, uma aldeia abandonada no horizonte, deixada ao abandono depois da enchente da barragem e uma casa num dos topos... este era o nosso ponto de paragem... o resto é parar e ver o mundo, o silêncio que nos atormenta, o desligar de um quotidiano que por vezes é apenas mais um verso de um poema que adormecemos...



 
A imagem das montanhas das eternas neves tendo o grande lago como confidente foi o retrato de antologia que precisavamos para a nossa refeição selvagem com grelhados, legumes frescos e pão à mistura. Acabamos de almoçar quase na hora de jantar, regressamos já em plena noite sem antes pararmos para admirarmos o Sol a pernoitar... a convidarmos a voltarmos na próxima lua... dia 4... o regresso a casa aproximasse...