Cosmos

19 Abril 2011


Durante séculos a escuridão permaneceu intacta, silenciosa em torno do seu próprio interior e nada fazia alterar o conteúdo da sua existência. Vivia programada de acordo com a rotina do seu dia-a-dia e nada fazia despertar a sua curiosidade íntima, a sua essência natural e misteriosa. Até que em determinado momento, algo inesperado, capaz de despertar o seu interesse interior acontece.

Num amanhecer, aparentemente comum a tantos outros, a escuridão acorda fria e vagarosa, mas ligeiramente incomodada por uma sensação invulgar, jamais sentida anteriormente. Por incrível que pareça, a escuridão sentia-se vigiada, o modo como se expressava, o próprio comportamento era ponto fixo para quem a observava.

Então, sozinha, a escuridão comenta consigo mesma:

- Que estranho, nunca me tinha sentido assim, sinto olhares estranhos sobre mim.

Até que surge uma voz quase como inexistente, mas ao aproximar-se sentia-se a força expressa na voz.

- Não tenhas medo escuridão, apenas quero ser tua amiga. Sabes, há muito tempo que vivo aqui, mas nunca consegui encontrar ninguém, cheguei mesmo a pensar que seria a única a cá morar. Mas parece que estava enganada.

Enquanto, a voz misteriosa se aproximava o coração da escuridão foi abrandando, até estabelecer o seu ritmo inicial, já que agora conseguia ver o rosto da voz que falava com ela.

- Quem és tu? E o que fazes aqui? – Perguntava a escuridão ainda num tom de voz tímido.

- Olá, sou a Lua e procuro alguém, preciso de encontrar alguém com quem possa falar, já não consigo viver sozinha por muito mais tempo. Sabes quando sentes que deixas de existir porque que te falta algo, e no meu caso falta-me a presença de quem amo. Sempre precisei de viver em grupo porque só assim sou feliz, sem isso não consigo brilhar.

A escuridão percebendo e identificando-se com a situação da lua permitiu que o diálogo prolongasse por várias horas, tendo a lua pernoitado por ali durante uns dias.

Cada dia que passava a lua sentia-se feliz e acolhida pela escuridão. E foi então, que perdeu a ideia de que a escuridão não existe apenas num sentido negativo, mas sim num sentido de conforto. A lua passou a ver o escuro como meio de reconhecer as luzes mais fraquinhas, luzes essas, que desvendam segredos, a partir dos quais surge o inesperado – a própria magia.

Posteriormente, as luzes são ténues, quase inexistentes no universo devido à imensidão do escuro, mas que, no entanto, aparecem como um sinal de vida, alcançando um brilho intenso e bastante significante em tudo o que precisa de vida e de ser descoberto.

Neste sentido de descoberta a lua refere-se ao planeta Marte, sendo o planeta que se encontra à descoberta. É o local onde se espera que haja possibilidade de existir vida.

Em contrapartida a lua também se refere a um outro planeta, mas algo que não se consegue descobrir na sua totalidade e que nunca ninguém consegue desvendar por completo. As suas características são muito complexas, apesar de aos seus olhos tudo parecer simples e tão básico.

Mas não existem planetas sem os seus meteoros e estes ao colidir na terra torna-se brilhantes porque se transformam numa estrela cadente, mas só por alguns segundos, porque o seu brilho é dado só para quem está atento e para quem o quer ver. Requer muita atenção e paciência para a analisar.

Contudo, a lua acrescenta ainda nesta lógica, o eclipse, uma espécie de conflito que nada permite ver, nem a lua nem o sol. Quando ambos se juntam na linha do horizonte não permite transparecer nenhum sentimento. Pode significar aos olhos dos simples um fenómeno cruel porque a luz torna-se ausente, mas é o maior fenómeno existencial na vida humana.

E na sua lógica, a lua termina com o buraco negro, no sentido de que acolhe o que esta disperso no universo e que faz sentido unir para dar o significado à grande expansão que é o Cosmos.

A escuridão ficara atónita com o que acabara de ouvir nos últimos dias, e esforçava-se continuamente para conseguir compreender tudo o que aprendera.

A aprendizagem fora muito simples: durante séculos a escuridão não vivera, pois tivera medo de avançar, de partir à descoberta do que inicialmente ainda era desconhecido, e que por isso a atormentava, limitando-se assim a viver na sua redundância insignificante. Percebera agora que não existe nada melhor e mais intenso do que viver em grupo. A vida em grupo é das melhores experiências de vida que qualquer um de nós aqui presente nesta sala pode ter ao longo da sua pequena eternidade. Principalmente, nos grupos que aparentemente, nada têm em comum. Aqui fica o testemunho de mais uma experiência, de mais uma vida, de mais um grupo. O grupo Cosmos!

(texto escrito pelo Grupo Cosmos - PASEC 2011)