Conversando com o Poder


Alimentei a alma num deserto de Ideias
Conclui a minha pauta numa tela
Não sabia onde tinha guardado as claves de Sol
Por isso repintei aquela tela já usada

Podia ter comprado uma nova
Mas o contexto é de contenção
A época é de alteração do status
E de reorganização mental alargada

Mas repensando o eu
O que quase sou
E nunca quis ser
Revejo as minhas principais opções
Estudo as trajectórias do tempo
Recrio os caminhos assombrados
Capitalizo a minha alma mordaz
E converso com os poderes que me batizam

Começo pelo pão dos meus dias
Percebo as vezes em que sou obrigado a lavar a alma
E as linhas que realmente ajudei a desenhar
Passo então pelo sonho existencial
E pela forma seus astros interagem
É um bailado belo, estelar e químico
Embora rebuscado em dimensões menores
Qualificadas na minha quase mente como inoportunas

Noutra dimensão do essencial
Analiso Família e Amor
Num patamar paralelo
Num quadrante inseparável
Porque no meu provavelmente
São a única dimensão real na presença e no abstracto ausente

Entretanto resumo vozes
Percebo que me engano todos os dias
Só estou certo da escadas que subo
E das que posso descer
Bem como das estradas de duplo sentido.
Sei que o poder é eminente
É ondulante e retaliante
E que me cabe a mim, a cada um de nós
A todos os eus e nós reencarnados
Viver nele, com ele e sem ele
Amedrontando-o, dominando-o, equilibrando-o
Á procura dos limites que nos desvendam o horizonte...