Depois do Nevoeiro...

Já passaram 17 dias desde que Agosto ganhou forma... já vivi mais aventuras e emoções nestes dezassete dias que em alguns anos da minha curta existência. Quando chegamos a determinada fase da vida partimos do príncipio que não existem muitas mais montanhas para escalar, e as que ainda faltam, pensamos serem demasiado altas e deslocadas da nossa realidade. Não penso assim nem de perto, nem de longe... sempre que termino uma montanha procuro a que se segue, se a que se segue é a mesma, procuro um trilho diferente para a subir. Se o trilho for o mesmo, ainda assim, procuro alguém diferente que a possa subir comigo para ouvir novas hstórias. De qualquer forma, não podemos esperar sempre por uma aventura interminável, existem momentos na vida em que o silêncio se faz ouvir e em que a aventura que se segue não passa de uma sequela mal realizada de um filme que já vimos. Pensei e tinha a expectativa que as aventuras que haviamos planedo para este Verão seriam interessantes, mas estava longe de imaginar que me ultrapassariam.

De 1 a 5 de Agosto estive no Gerês, no GeoCamp International 2011, iniciativa da organização de que faço parte (a PASEC) e, mais uma vez, tive a oportunidade de trilhar caminhos de histórias já contadas. Escalei, explorei, reflecti, desvendei, acabaei com o meu físico corporal e emocional... mas algo faria desta sequela de filme épico algo nunca vivido... perceber que era exactamente ali que queriamos estar.... e que fariamos de tudo para prolongar aquele sentimento de "memórias de sempre".

A Quarta-feira, dia 3 de Agosto, dia da escalada até um dos topos do Gerês, seguida de um rapel de mais de 60 metros, foi o deslumbramento do que uma "fortaleza humana" (equipa) é capaz de produzir. Foi assim os cinco dias, por entre todo o tipo de peripécias que vão desde uma festa com carros a fumegar em área proíbida à meia  noite na fronteira entre Portugal e Espanha a ambulâncias da Cruz Vermelha chamadas de urgência para salvar donzelas lesionadas às "tantas da manhã". Foram as histórias e memórias que partilhamos, misturadas com a magia dos recantos do Gerês, que tornaram o GeoCamp uma experiência para lá de nós mesmos.

Dias 6 e 7 aproveitei para descansar. De 8 a 12 avancei para a Tocha, para o Seminário "Democracia e Interculturalidade", também organizado pela PASEC.

A atmosfera que rodeou o Seminário foi uma especie de fusão entre o passado e o presente da organização PASEC. Estiveram amigos que estão na organização desde o seu início e que por vários motivos os vejo partir para novas aventuras e alguns, ainda verdes, nestas andanças à pouco mais que um par de meses. Aquele sentimento que vos referia de que "é aqui que queremos estar", revelou outra face, a história da evolução das motivações e razões que me fazem, que nos fazem, querer estar ou sentir que pertencemos a determinado espaço ou contexto.

O Seminário foi esse laboratório simbólico de emoções banhado por noites fantasma do fantástico onde o grupo se fortalecia como uma constelação só. Foi assim noite dentro, fogueira acesa acompanhada de viola na praia da Tocha, foi assim nas noites de Simbologia Grupal ou nas noites de "teatro obsceno".

Para quem não percebeu, são raros, para não dizer inexistentes, os momentos em que o nosso tempo para e nos permite olhar para o que construímos e estamos a construir ao mesmo tempo, dando razão ao nosso ego, egoismo e dessa forma, ao que somos (com defeitos e qualidades combinados). Não vou retratar as aventuras que vivemos porque tornar-me-ia ainda mais entediante, mas foram "algo".





Descansei os dias 13 e 14 por entre muitas sessões de cinema e no 15 avancei para a Serra da Lousã e arredores em busca das Aldeias Perdidas do Xisto. Não vou partilhar o que andei a fazer ou descobrir, as imagens falam por mim. Agora sem responsabilidades que me acorrentem, pude perceber os dias que tenho vivido e há um momento chave que quero revelar.... dia 16 Agosto, depois de ter visto veados e outros animais.... Serra de Miranda.... 18h da tarde.... estava um nevoeiro que não nos permitia ver que mais que 3 metros... queriamos seguir de carro por um trilho de terra para mais uma Aldeia do Xisto da qual não me lembro do nome... mas estava impossível devido à densa neblina e tivemos que voltar para trás. Entretanto enganamo-nos no caminho e de repente, descendo a encosta, o nevoeiro dissipou-se e vi algo que jamais havia visto, uma enorme massa cinzenta (o nevoeira na foto em cima) a comer a montanha com mais de 1000 m de altitude por completo... só se vislumbrava, ocasionalmente, alguma hélices das ventoinha heólicas que venceram o topo da montanha. Passamos da penumbra ao horizonte interminável num instante. E por ali fiquei intensos minutos a observar... sem querer mais nada... apenas a observar. É estranho não estar ansioso pela próxima aventura, é estranho.... mas pemite-me perceber que vou sobreviver depois do nevoeiro, mesmo que não tenha mais montanhas para subir.