Milénia... perceber onde devemos estar.... (Parte IV)

Os dias em Milénia vivem-se a uma intensidade sem ritmo, por entre emoções traiçoeiras que se transformam em armadilhas para uma mente desorientada, e Milénia tem o poder de desorientar os mais incautos. Em mais uma manhã madrugadora Saaber e Serenity procuram treinar a arte das armas dos homens, não só como se manejam, mas a sua história, a razão da sua existência e a justificação do seu tempo. Esta jornada matinal leva-os a um velho forte meio abandonado em Yuma, velha capital de Milénia. Os próximos tempos seriam dedicados à arte do combate.

Cansados, mas iluminados, os dois jovens aspirantes a magos seguem jornada rumo à costa de Milénia. Encontram uma enorme duna com uma soberba vista sobre o elemento natural que por este dias lhes governou a alma, a água na imensidão do Mar dos Deuses. Saaber sugere que parem e tomem uma refeição. Saaber aproveita as horas que se seguem para tirar apontamentos das suas ultimas aventuras e mais uma vez contemplar  a paisagem através de exercícios de introspecção.

Os dias em Milénia estavam a chegar ao fim, mas faltava um último desafio por superar, um que tinha ficado adiado nas aventuras anteriores, vislumbrar toda a exuberância da Lagoa das Visões. Saaber e Serenity prepararam alguns mantimentos e seguem rumo à Lagoa por entre as montanhas. Durante a subida mais uma vez Milénia consegue surpreendê-los com mais uma pequena lagoa de águas quentes alimentada por uma magnifica cascata onde algumas crianças de uma velha aldeia de pastores ali de perto de recriavam.

Infelizmente o objectivo maior não permitia ficar muito tempo e prosseguiram caminho. Foram horas a tentar chegar ao pico das Montanhas do Fogo, refúgio que permitiria finalmente conhecer a Lagoa das Visões. E assim foi, os dois jovens aspirantes a Magos petrificaram perante a magnitude daquele monumento natural. Naquele momento, Saaber perceberia o porquê do nome da Lagoa. Este parou no seu tempo, concentrou toda a energia cósmica que fluía de cada um dos seus sentidos em um só numa espécie de exercício de concentração e focalização que o transcendia e jamais havia experimentado. Aquele instante transformou-se em eternidade e Saaber transportou-se para o seu dia-a-dia, viu os rostos familiares com quem se havia aventurado nas eternidades presentes passadas, vislumbrou as suas acções quotidianas que traduziam a sua missão e papel enquanto pessoa comum feito Mestre em caminhos que via como alheios, viu-se e amou-se pelo que era, mesmo com todos os erros que cometeu e cometeria. A Lagoa mostrou-lhe onde naquele momento ele pertencia e deveria estar. De repente lá acordou daquele transe através da voz de Serenity, não havia tempo, era altura de regressar. Ele queria muito mergulhar nas águas da Lagoa, mas o seu tempo em Milénia tinha chegado ao fim, o seu dia-a-dia chamava-o de volta. De qualquer forma ele sabia que haveria de voltar à Lagoa das Visões, conhecida por entre os homens comuns como a Lagoa do Fogo, e por entre os místicos, como o Refúgio dos Dragões de Fogo.