Ou somos ou não somos...

Vivemos tempos de austeridade financeira, económica, social e ideológica. Mas o mais incomoda é que vivemos graves tempos de austeridade humana, traduzida na falta de valores, na falta de ambição (a boa), na falta de oportunidades e na falta de momentos para realmente sermos humanos.

O mais triste é ver amigos, família e pessoas de que gosto a serem arrastados na enxurrada por dramas como desemprego, a depressão e o "contar de trocos" diário rumo à sobrevivência.

Mas se esta época é pródiga em austeridade não é menos generosa no excesso de desculpas e na falta responsabilidade. Mas para que fique claro não me refiro aos 80% de seres humanos que não escolheram ser líderes, nem aos outros 15% que são políticos, lideres das multinacionais ou ainda opinadores televisivos. Refiro-me apenas aos 5% de humanos líderes que realmente podem fazer a diferença, que escolheram fazer a diferença e têm por obrigação fazer a diferença porque sem estes o caos não será uma escolha, será a usualidade dos nossos dias.

Como não posso falar com todos os 5%, porque felizmente ainda são alguns milhões, dirijo-me a apenas alguns deste humanos líderes, pessoas de excepção, amigos próximos e parte da minha vida.

Também estes se deixaram levar por uma espécie de austeridade mental deitando por terra a maior qualidade que tinham, o fato de terem escolhido serem importantes na vida nos outros. Rodeiam-nos com um discurso redondo sobre imaturidade, que se trata de algo de novo e que precisam de tempo para aprender e sobreviver. Este discurso até seria justo se procurassem de fato aprender em vez de vegetarem na sua própria depressão existencial e emocional.

Todos nós humanos líderes, temos momentos de rutura, de passagem, de menos impacto... mas quando somos nós que escolhemos entrar na vida dos outros, de dar voz aos outros e às suas causas... falhar a essa responsabilidade não só é estúpido como inconcebível, visto que fomos nós que nos chegamos à frente sem que ninguém nos tivesse apontado uma arma.

Por estes dias tenho convivido com um desses humanos líderes, que apesar da sua importância e bom exemplo, (e não ponho em causa a amizade que nos une) se começou a centrar nos seus próprios detalhes, deixou de querer aprender, deixou de ambicionar, atingiu níveis de negligência inimagináveis e deitou fora em semanas tudo o que demorou anos a construir. Escolheu ser líder a reboque na desculpa do tal discurso redondo sobre imaturidade, que se trata de algo de novo e que precisa de tempo para aprender e sobreviver. Então repito, este discurso até seria justo se tivesse de fato procurado aprender em vez de vegetar na sua própria depressão existencial e emocional. Quando escolhemos a causa pública não há família, idade ou preconceito que justifiquem a nossa falta de iniciativa, sentido prático e egoísmo narcisista.

Ou somos ou não somos.... o nosso discurso até pode ser enviesado e a nossa atitude mal disposta desde que não percamos o sentido da ação militante em prol da causa que abraçamos... mas paralíticos na desculpa de existirmos é sermos iguais aos que tanto criticamos, é sermos iguais aos parasitas que desprezamos.

Para que também restem dúvidas e não achem que estou acima destas críticas, contra mim falo, porque não sou imune a estas desditas contradições.... começo como titulei "ou somos ou não somos".