O Caderno de Encargos Simbólico... (atualização)

O ser humano tem a tendência para se auto deteriorar e ritualizar-se numa busca obstinada por meandros mesquinhos, egoístas que o destroem e violam a sua integridade. O divertido e rebuscado da situação é que boa parte das vezes o ser humano tem plena consciência da sua insanidade, mas insiste porque é imperfeito, fraco e "humano".

Mas o melhor de ser humano é poder errar e traduzir esse erro numa oportunidade. Ainda neste seguimento vi e ouvi por estes dias, num desses filmes ridículos que têm uma ou duas frases de oportunidade, uma filosofia interessante: "não existem erros, apenas um caminho que te levou a um determinado destino...".

Mas voltando ao que hoje me traz aqui, tenho a plena consciência do que me deteriora diariamente e me faz ritualizar os meus devaneios. Temos direito a vivê-los enquanto nos testamos e aprendemos o caminho do TEMPO, mas não podemos eternizá-los, eles podem-nos tornar obsessivos e fazer com que nos percamos na nossa própria irregularidade. Não estou a afirmar que deixemos de ser irregulares, estou apenas a relembrar (nomeadamente a mim próprio) que nada é tão bom que não acabe ou se deteriore, nem nada é tão mau que não possa melhorar ou mudar de sentido.

Hoje tirei alguns minutos para contemplar uma pequena capela em Famalicão, e qual não foi o meu espanto quando me dou no meio de uma cerimónia ortodoxa num templo cristão. Era um ambiente estranho, e eu era uma estranha e pálida presença por entre os presentes. Mas não deixa de ser assombroso que é mesmo assim que me sinto diariamente, um estranho num mundo de estranhos que me estranham e se estranham.... por breves minutos entrei em astral (momento em que o nosso ser simbólico viaja para além da nossa carcaça) e fiz daquele banal e estranho momento uma ponte para a minha nova casa. Desenhei pela primeira vez, e de uma forma clara, o que acredito ser "um caderno de encargos simbólico". Não, não estou a falar de mais uma "troika económica", falo de estabelecermos metas existenciais e significantes que nos permitem alimentar o espírito inconformado e elevarmos o nosso nível existencial, simbólico e cósmico.

Determinei para mim próprio um caderno de encargos muito exigente, que exige inclusive austeridade, mas ao contrário da austeridade atual, é realista e de prazos credíveis.
Metas obrigatórias:
- Dizem que um homem deve escrever um livro, plantar uma árvore e formar família... não entro nestas máximas, mas escrever sempre foi uma prioridade, por isso escrever a poesia e prosa que guardo à imensos anos e me fazem têm entre 12 a 24 meses para verem a luz do dia e vou chamar-lhe, intitulá-lo TEMPO...
- Quero ver a Acrópole do Cavaleiro Cosmos (visitar a Grécia), caminhar e profanar o meu local de Batismo (mergulhar na Lagoa do Fogo em São Miguel, Açores) e subir Machu Picchu (Perú) no espaço de 12 a 24 meses
- Pretendo aprofundar, melhorar e conhecer melhor os laços simbólicos que estruturam a minha família sem qualquer barreira temporal que o determine
- Pretendo ver TEMPO (total livro que idealizo) interpretado e apunhalado por seres humanos reais e com quem respiro diariamente (os meus formandos e formandas), juntando a este objetivo o compromisso de continuar a ser feliz no que faço (ser professor animador) o máximo de tempo possível
- Por fim deixo cair os devaneios capitais, prometo-me a espiritualidade simbólica de quem acredita num caminho longo, com percalços e erros que não deixarão de existir, mas com TEMPO.

Espero bem ser capaz de dar voz e corpo a estes compromissos e ao maior de todos que me obrigou a pensar em todos estes... termino com a proposta de um exercício de simbologia que todos devem tentar, crentes ou não crentes..... façam uma viagem curta com a pessoa mais significativa do momento (nem sempre é a pessoa que amam ou mais gostam, muitas vezes é aquela pessoa que mais luz traz à vossa noite de penumbra), procurem uma viagem noturna de céu limpo e um local que permita uma contemplação do horizonte e do imenso celeste (por exemplo a praia com céu limpo à noite ou um declive num topo de montanha também à noite), permitam um acompanhamento sonoro relevante e sereno (a música contemplativa permite acalmar a mente e faz fluir o pensamento), por fim tracem o caminho do passado e do presente, partilhem-no com quem vos acompanha, ouçam o que ela/ele tem para vos dizer, ouçam-se a vocês mesmos e determinem metas significativas para o futuro, como esta espécie de caderno de encargos simbólico que acabei de exercitar. Têm é de ser reais e com limites temporais claros.

O exercício é tão básico que todos perceberão que, em alguma altura, já o fizeram, o que tenho a certeza, é que não têm consciência da dimensão simbólica de cada um dos passos que descrevi, mas isso fica para outra viagem com letras. Hoje começo a construir a minha nova casa... para começarem a desenhar o vosso caderno de encargos simbólico desafio-vos a queimar uma nota de pelo menos €20 euros.... porquê??? experimentem e perceberão...