Os dias do Cavaleiro: Quando o mundo já não nos chega (Livro Tempo)


Um grande pensador, que nunca assinou o seu nome ou passado, ainda do tempo da velha era, que alguns especulam ter sido um sanguinário conquistador, talvez um dos que fez cair a velha era, deixou o seguinte escrito: “Com a ajuda do Céu venci um império enorme. Mas a minha vida era muito curta para alcançar a conquista do mundo. Essa tarefa foi deixada para os que vêm a seguir a mim.”

Todos os Mestre recordavam aos seus aprendizes estas palavras por um simples motivo: todos chegávamos ao dia em que o mundo já não nos chegava; todos chegávamos ao dia em que almejávamos a novidade, porque a singularidade do presente já não era suficiente; todos nos deixávamos levar pelo momento em que a montanha mais alta era apenas mais um instante antes da montanha que era ainda maior, tudo porque achávamos que um desafio superior, que não sabíamos definir, nos chamava algures num vazio desconcertante que não conseguíamos controlar.

A este sentimento os nossos Mestre chamavam de soberba. Ele aparecia entre retalhos mal preparados do nosso ser e rendilhado de sobranceria, fazendo-nos esquecer o dom da humildade, da simplicidade, tornando-nos seres altivos e arrogantes, porque nada do que vivíamos era suficiente para alimentar o nosso “eu”.

A este respeito Mestre Ely deixou-me a mais valiosa das lições:
- Quem não souber perder nunca, estará preparado para vencer; quem não for capaz da simplicidade das pequenas tarefas, nunca estará preparado para a dureza das grandes. Quem não souber apreciar o sorriso gasto da sua mãe, nunca saberá realmente o que é sorrir; quem não for feliz a recordar o primeiro livro que leu até à última página, nunca estará preparado para aprender novas línguas…