Os Diários de Idanha - Iº Parte - Ser monumental...

Chegada ao passado...

O passado pode ser perigoso se visto de uma forma turva e estanque. Podemos perder-nos em memórias de trevas ou deixar-mo-nos trair por um aquário de boas sensações. 

Antes de chegar a Idanha-à-nova (por onde descanso por estes dias...) parei na Vila da Feira para recordar as paredes imponentes do seu castelo e os rostos gastos das suas masmorras. Olho para a nossa memória como um castelo em que cada uma das suas divisões representa parte do que fomos com uma janela apontada ao infinito do que podemos ser. Entrar na Raia (zona pela qual é conhecida esta zona do Parque Natural do Tejo Internacional) é entrar numa história de paisagens intermináveis, num horizonte de plenitude de azinheiras e alguns sobreiros devidamente alinhados num jogo de cores pálidas mas monumentais. Parando o carro é possível ouvir o silêncio, contemplar o tempo a parar sem que qualquer carro passe durante mais de 10 minutos. Por estes dias vou viajar pelo passado, regressando ao futuro por entre castelos, ruínas e lendas de futuro.





A lenda de Monsanto...

A arqueologia diz-nos que o local foi habitado pelos romanos, no sopé do monte. Também existem vestígios da passagem visigótica e árabe. Os mouros seriam derrotados por D. Afonso Henriques e, em 1165, o lugar de Monsanto foi doado à Ordem dos Templários que sob orientações de Gualdim Pais, que mandou construir o Castelo de Monsanto. Os Templários foram uma Ordem mítica que entre outras lendas foram os protetores do Santo Graal. 

Mas referências históricas e arqueológicas à parte, Monsanto, mais que a aldeia mais portuguesa de Portugal (designação pela qual é conhecida), é uma viagem a um filme épico que deveria ser obrigatório ver ainda no 1º ciclo do ensino básico. 

Já partilhei com vocês que para mim a nossa memória é como um castelo em que cada uma das suas divisões representa parte do que fomos com uma janela apontada ao infinito do que podemos ser. Quando vi Machu Pichu (antiga cidade inca) pela primeira vez senti que os meus demónios e insatisfações encontravam naquelas ruínas o refúgio para pernoitarem longe do raio de horizonte que me entrava por uma fenda a apontar para o amanhã. Mas assim não foi. Nem sempre temos o que procuramos. Hoje, nas ruínas da antiga fortaleza templária, consegui completar esse exercício. Se vai resultar ou não, só o horizonte o poderá responder.

Para além do dia memorável, Mosanto proporciona-nos o sentimento que ainda não vimos nada, sobretudo se nunca cá tinham vindo antes. Não há nada de mais perfeito que acabar uma tarde de calor (38 graus) a beber uma cidra bem gelada vendo do topo o mundo como companhia. Até amanhã...