A alegria de viver... - Diários a Indochina X





Já se perguntaram "onde é que realmente deverias estar?". Faz alguns dias que não me faço essa pergunto. Significa que estou onde deveria realmente estar.

Hoje foi o dia em que agradeci realmente estar aqui. Halong Bay e Hue foram impressionantes, mas Siem Riep ultrapassou o que havíamos de esperar e não foi pelas paisagens (essas ficam para Angkor). Foi pelas pessoas e pelo que são capazes de erguer a partir do nada, neste lado do Oriente, em situações reais de pobreza extrema. Vivem anualmente com uma média de 900 euros ano, repito 900 euros ano.

Chegamos finalmente ao Cambodja, o nosso destino derradeiro. Pela manhã visitamos um projeto incrível. Uma Escola Profissional de Artesanato que retirou mais de 1200 crianças da pobreza e que neste momento dá emprego a boa parte delas através de uma Cooperativa Social que criou. Todo o lucro produzido é reinvestido nas próprias pessoas. Tem o único sistema de Segurança Social do país, criado pela própria cooperativa. Sim é verdade, no Cambodja não há Segurança Social. Em Portugal ainda nos queixamos.

Pela tarde visitamos uma cidade flutuante, verdade, uma cidade flutuante!!!!. Dá pelo nome de Chong Khneas. Toda uma estrutura urbana erguida por cima de um rio. Todas as instituições e casas são em madeira incluindo o centro de saúde, escola, igreja, o mercado, as zonas de lazer. Por outro lado as condições de higiene lembram que em Portugal isto seria um atentado ambiental. Vendem crocodilo, tem criação de peixe gato, capturam pitões (cobras gigantes), tudo aquilo que jamais imaginaria ver na minha vida. A pobreza extrema está por todo lado. Mas ao mesmo tempo vejo-os sempre a sorrir, a cuidar do seu par e a cumprir com ardor as tarefas diárias.

É realmente possível sermos felizes com pouco. No Cambodja as pessoas vivem aproximadamente até aos 54 anos, não há sistema de Segurança Social , não há água canalizada nem eletricidade pública em mais de 80% do país. Mesmo assim todos sorriem, todos são amáveis, todos nos recebem como se nos devessem alguma coisa quando somo nós que temos tudo aprender com eles. Quando digo eles refiro-me às populações locais porque o Estado, por aqui, não existe.

Lamento mesmo não vos conseguir transmitir o sentimento do dia de hoje, porque é preciso ver para acreditar. Ninguém tentou disfarçar a pobreza do país para turista não ver, muito pelo contrário. Questiono-me sobre as minhas opções de vida, sobretudo depois de ter conhecido novos companheiros e companheiras que mudaram de vida só para dar alma a estas causas, ou que então nos mostram como é possível ser feliz com quase nada.

Hoje não há grandes lições para reforçar, só recordar que podemos ser felizes com muito pouco (materialmente). Basta que em cada dia em que acordamos possamos estar com quem nos importa e a fazer o que nos realiza,  percebendo a "alegria e bênção que é viver."