Diários da Indochina - Parte V - "A solidão aparente..."




Cedo percebemos que estarmos com nós próprios pode ser um desafio irritante, chato, intimidador e até perturbante. A esse momento chamo solidão. 
Estamos sós de muitas formas. No meio da multidão assombrados pela quantidade ou nas paredes do quarto em que dormimos todas as noites. Aqui por terras vermelhas do oriente, no meio da diferença completa não me sinto só. Sinto-me a sós, uma paz estranha e que deixa o tempo vencer-se a si mesmo.
A delicadeza e alegria  com que somos tratados, a calma dos mais velhos e sábios de estar perante os acontecimentos como eles são, a sobriedade dos templos e as palavras que nunca entenderei lembram-me a desorientação dos dias e a voz interior que deixamos de ouvir só porque temos medo de estar a sós.
Esta solidão aparente é reconfortante, é estranhamente reconciliadora e lembram-me que se não conseguimos estar sós, também dificilmente estaremos a par. Afinal o que pode ser pior do que termos medo de nós próprios? No momento da verdade a decisão será sempre a sós, nós a a nossa consciência...