Na Jerusalém que pude sentir e viver com os meus próprios
sentidos fiquei com a certeza que a diferença religiosa é só mais um vetor de
centenas de outras diferenças que só nos engrandecem e aproximam na diversidade
que o Homem foi capaz de gerar. Depois destes primeiros quatro dias, as guerras
que acabamos por inventar são desculpas de indisposições que, nesta parte do
mundo, matam milhares.
Aqui no centro do mundo de todas as convicções religiosas
pergunto-me por onde caminha o Homem, portento de emoções, criatividade, raiva,
alucinações e crenças. Será que se esqueceu que sente, respira, toca, ouve e se
perde como qualquer um dos seus irmãos, independentemente do credo que escolheu
professar.
Nas ruas de Jerusalém, a lenda da criança judia perdida em
brincadeiras com a criança católica arménia enquanto a eles se juntam o “puto”
muçulmano e a “miúda” católica com equipamentos das seleções brasileira e
argentina é uma verdade tão natural como a indisposição que o café turco me
provoca.
Aqui, bem ao lado do muro onde os vivos depositam as suas
mágoas e despertam para um novo amanhecer, deixo cair a minha capa usada e
gasta das batalhas que travei. No entanto, no meu íntimo, arresto as minhas
armas usadas pela vaidade, excesso de confiança e derrotas que me tornaram mais
forte.
Perco-me nos olhares díspares, nos cheiros intensos, na
naturalidade da Babilónia que me trespassa a alma e me encanta em todas as
direções. Por fim, em silêncio
perante o Muro das Lamentações… no hoje do agora, só lamento que nós humanos não
entendamos a simplicidade da diferença. Afinal, no mundo em que todos queremos
a diferença, no final do dia só afirmamos o medo que temos dela.