Por terras de Atros - O Covil do Leviatã (Parte IV)





Mais um dia em Atros, mais um dia para nos expormos perante a superação que constantemente voltamos a por à prova. 

Hoje estou particularmente emotivo, irei rever Mestre Albi, Mestre Aprendiz com um poder muito raro, o poder do “Anima”, a capacidade de “dar alma”, de contaminar de forma curativa e multiplicadora os sentimentos e potencial do próximo. 

Mas esta história fica para amanhã. 

Hoje era dia de viajar até ao Covil do Leviatã, Dragão Mítico do Tempo Antigo que se esconde, segundo as lendas, nos Bosques do Imperador. Para lá chegar tínhamos de atravessar os perdidos trilhos do Caminho Lendário do Imperador de Atros. O meu objetivo era rever a Mestre Leviatã, Sofera.. 

Colocámo-nos a caminho. Era um trilho avassalador, perdido entre cascatas, flora luxuriante e alguns animais para os quais não sei o nome. 

Conheci a Mestre Leviatã quando treinava com Mestre Karin e procurava descobrir o meu símbolo, o Dragão de Fogo. Nessa altura Sofera era ainda uma adolescente à procura de rumo. Mais tarde, Sofera haveria de se tornar minha Aprendiz. 

Depois de quatro horas de caminhada lá avistámos o famoso Covil de que Sofera havia feito casa. Sofera recebeu-nos entusiasticamente e convidou-nos a pernoitar por ali. Apesar da alegria com que nos recebeu, senti nela um ar pesaroso. 

Depois de um pequeno repasto e já com as estrelas como companheiras acendemos uma fogueira e deixamos a conversa fluir: 

- Sinto-te distante e ausente. Há algo que queiras partilhar? – questionei-a preocupado. 

- Não te quero inquietar com os meus problemas… mas sinto o que já sabes que me paralisa mais. Estou mais uma vez num daqueles momentos em que questiono tudo o que faço, os motivos pelos quais persisto e as razões que me levam a fazer caminho. E o mais grave é que não sinto que esteja a ser injusta ou errada. Não percebo se é cegueira ou uma insatisfação disfarçada de falta de vontade de existir. É uma espécie de mecanismo de autodestruição só para ter um motivo para voltar a regenerar. É tudo tão contraditório e sem sentido… - respondeu Sefora. 

- És como o Covil que escolheste para viver, preferes que não te conheçam para que não te desvendem. És como o Leviatã, assumes várias formas para nunca revelares a tua. No final do dia, nem tua sabes o que há para desvendar sobre ti ou a forma que pretendes assumir. Não tenho respostas para te dar minha Aprendiz, mas há dois tesouros que descobri à muito e gostaria de partilhar contigo. O tesouro da Amizade, traduzida nos companheiros de caminho que não permitem que nos percamos. E o tesouro da Sobriedade, traduzido no ato de perceber quando não podemos nem devemos ficar sozinhos e com toda a naturalidade pedir auxílio.