Por terras de Atros - O nível seguinte do nosso Cosmos... (Parte VI)





O Cosmos Interior é o universo uno interior que condensa todos os nossos poderes intuitivos, instintivos e deliberados pela nossa mente. Em situação de pressão ou necessidade o Mestre Aprendiz evoca o seu Cosmos Interior no sentido de desencadear um determinado poder. 

Na maior parte das vezes quando evocamos um dos nossos poderes este é deliberado. Em consciência decidimos que naquele momento aquele poder é decisivo para a prova, exercício ou situação de pressão que estamos a enfrentar. 

Outras vezes, perante o infortúnio, o nosso Cosmos Interior ganha vontade própria, permitindo por vezes que nos elevemos ao nível seguinte, perante um poder que nunca tínhamos experimentado. 

Era o meu último dia em Atros. Antes de regressar a casa estava perante um último desafio. Escalar o Estreito da Caldeira do Peregrino até ao Poço do Peregrino, a Lagoa mais profunda de Atros, alimentada pela Cascata da Caldeira do Peregrino, uma queda de água de mais de 300 metros. Para além de chegar até à visão incomparável do portentoso monumento natural queria experimentar os meus sentidos mais primitivos. 

Para além da grande distância, parte significativa da subida era feita entre grutas sem qualquer tipo de luz e uma bruma densa que nos retirava qualquer tipo de visão possível. Perante tais dificuldades só podia fazer uso dos meus sentidos primitivos e intuição. Para complicar a subida decidi levar Sarah comigo. Apesar de menos experiente, Sarah não quis ficar de fora. 

As primeiras duas horas de subida foram aceitáveis. Conseguimos a algum custo emergir perante uma dezena de cavidades sem qualquer tipo de luz, sempre em constante subida. Mas a parte difícil havia chegado. Estávamos perante a Fenda da Bruma do Peregrino. A partir daqui só tínhamos a nossa intuição e sentido de oportunidade. Passo a passo, braço ante braço lá íamos fazendo caminho. Até que coloquei o meu pé esquerdo sob uma superfície mais mole que as que tinha pisado até então. Pressionei para conseguir manter o ritmo de escalada e nessa altura, um incontável número de espigões pontiagudos perfuraram o meu calçado e trespassaram a palma do meu pé. Paralisei, a dor era insuportável. 

Não podia parar ali, ou descia, ou continuava a todo o custo. Perante uma dor sussurrada Sarah questionou-me se estava tudo bem, mas nessa altura deixei de ouvir. Desliguei os sentidos primários. Já não cheirava, não sentia o paladar e não ouvia. De olhos fechados um imenso azul invadiu o meu horizonte desenhando uma espécie de escada labiríntica. Não contive o meu Cosmos, deixei que ele falasse e como por magia fiz todo o Estreito a uma velocidade incrível. 

Chegamos ao topo e lá estava o Poço do Peregrino em toda a sua imensidão e monumentalidade. Deixei que Sarah visse o meu pé e lhe aplicasse um curativo temporário. Questionou-me como havia feito a subida com aquele ferimento, mas não lhe sabia responder. Por outro lado também eu estava surpreendido porque tinha sido Sarah, a menos experiente, a fazer a subida sem percalços suicidas. 

Neste momento percebi que ambos tínhamos elevado o nosso Cosmos Interior. Não existe uma medida ou método definido para chegar ao nível seguinte. Chegares à próxima etapa nunca terá haver com a quantidade de treino a que te submetes ou a velocidade com que praticas o poder que pretendes dominar. O próximo nível está na vontade, resiliência e disciplina como te dedicas ao objetivo que pretendes alcançar. 

Como um dia aprendi, aqui relembro: Queres chegar ao próximo nível? Procura a vontade que te faz querer multiplicar, alimenta a resiliência que te faz perceber que és parte de uma causa e junta a isso a disciplina do treino porque vais precisar de tempo… e esse não tem definição..