Diários do Serengeti – Parte III – Hakuna Matata





Somos o resultado das somas e subtrações do que fazemos, dos alinhamentos mais fortes que conseguimos trilhar, das definições que absorvemos, dos conceitos absurdos que criamos. 

Nesta aventura sempre tive presente que uma destas somas, subtrações e conceitos estranhos poderia emergir sob a forma de desafio tempestuoso, testando o meu silêncio, a minha concórdia interior. 

Era a noite do meu quinto dia. Ainda estávamos em Masai Mara. Enquanto dormia estive ao mesmo tempo acordado. Os sons dos animais pela noite dentro foram acompanhando a minha reflexão nas profundezas da minha alma decrépita. As horas pareciam não passar. Questionava mais uma vez porque era eu a ter a oportunidade de ali estar. 

Os pássaros chamavam pelo nascer do sol, as hienas, bem ao longe, marcavam à distância o seu descanso lembrando que não queriam ser incomodadas. 

Levantei-me, abri a tenda, e por entre a copa das árvores vi o Astro Maior erguer-se. O embalo de uma suave brisa lembrou-me a bênção que estavam a ser estes dias, as pessoas que estava a conhecer, os sorrisos que estava a esboçar, o tempo que voltava a reconquistar. A minha mente viajou para o desperdício de tempo que dedicamos aos territórios desocupados pela alma, lembrou-me a perversão que anunciamos ao esquecermos o respeito pela abundância celestial que nos foi proporcionada. Queria poder partilhar aquele sentimento de equilíbrio, de intensidade benigna com os que havia esquecido em casa mas percebi que assim também eu estava a desperdiçar. Não se tratava de egoísmo, tratava-se de viver aquele tempo e local sagrado. 

Eram, são tantos os sentimentos que me perdi a somá-los todos. 

Por momentos fecho os olhos, detenho a minha ânsia, inspiro de forma voraz e agradeço aos deuses deste espaço venerado o facto de me receberem a mim e aos meus. Às vezes basta estar agradecido. Basta acolher o que de melhor a nossa alma proporciona aos outros. Às vezes basta “Hakuna Matata”. 

Por estas terras convidam-nos a acompanhar a vida com simplicidade, com tempo para saboreá-la, em acolhimento interior com os Mestres da Natureza, esquecendo, desintegrando o que nunca desejamos plantar. Este é o poder “Hakuna Matata”.