Hoje imergimos nas planícies de Amboseli para descobrirmos os maiores mamíferos do universo conhecido, os monumentais elefantes negros. Em Amboseli habitavam as maiores manadas. Para além de ser raro avistá-las, os que conseguiam fazê-lo eram considerados “escolhidos para uma tarefa maior” pelas tribos nativas da região.
Depois de horas de caminho paramos numa enorme floresta palmilhada de palmeiras e lá estavam eles, imponentes e ás dezenas.
Já me haviam contado histórias deste momento, mas estar no momento… prende-nos o coração, desorienta-nos, faz-nos curvar perante a alquimia de um momento perfeito. Naquele instante não há continuidade, há um estar eterno que te eleva à meditação e te faz só… estar.
É um daqueles momentos que sabes que não voltarás a ter. Nesse momento não me contive. Alinhei o meu diário simbólico e dei forma a estas palavras que transcrevo:
“Quando fazemos planos sobre uma grande viagem para treino espiritual e meditativo queremos que tudo seja perfeito. Queremos ver os sítios, conhecer as pessoas, privar com os sábios e mestres de um tempo que não é nosso, meditar nos lugares impossíveis onde nunca esperas refletir e que, em nenhum momento, nada abale o teu silêncio.
Com a experiência percebes que nunca será assim. A aventura acaba por perder-se nela própria e é o detalhe que não esperavas que te vai deslumbrar e a fissura mais invisível que te vai fazer cair. A realidade da grande jornada é aleatória e rotineira como os banais dias da tua labuta diária.
Temos de estar atentos aos sinais, aos pequenos, mas sobretudo, condensar, absorver e viver os que sabemos que são os grandes. O encontro com a manada de elefantes negros foi um desses momentos raros.
São muito poucas as famílias de elefantes negros livres. Ter podido preservar, viver esta bênção, faz-me lembrar o quanto eu lamento ter de voltar já a casa. Saber que não vou conseguir partilhar verdadeiramente a dimensão daquele momento deixa-me ansioso. Como descreveria o privilégio que vivi?....
Então prossigo a minha reflexão…
Quando está para morrer o grande elefante negro volta ao território de origem. Consegue percorrer milhares de quilómetros de volta ao exato sítio onde tudo começou, mantendo vivo o vínculo sagrado às suas raízes, à sua história que permitiu que novas histórias surgissem.
É assim que vejo este momento. Regresso não para ficar, mas para partilhar, dar, somar e redimensionar antes de partir outra vez. A nossa jornada espiritual só faz sentido na partida e no caminho quando percebemos quando temos e regressar.”