Diários do Serengeti – Parte VI – O regresso e o encontro com os elefantes negros…



Hoje imergimos nas planícies de Amboseli para descobrirmos os maiores mamíferos do universo conhecido, os monumentais elefantes negros. Em Amboseli habitavam as maiores manadas. Para além de ser raro avistá-las, os que conseguiam fazê-lo eram considerados “escolhidos para uma tarefa maior” pelas tribos nativas da região. 

Depois de horas de caminho paramos numa enorme floresta palmilhada de palmeiras e lá estavam eles, imponentes e ás dezenas. 

Já me haviam contado histórias deste momento, mas estar no momento… prende-nos o coração, desorienta-nos, faz-nos curvar perante a alquimia de um momento perfeito. Naquele instante não há continuidade, há um estar eterno que te eleva à meditação e te faz só… estar. 

É um daqueles momentos que sabes que não voltarás a ter. Nesse momento não me contive. Alinhei o meu diário simbólico e dei forma a estas palavras que transcrevo: 

“Quando fazemos planos sobre uma grande viagem para treino espiritual e meditativo queremos que tudo seja perfeito. Queremos ver os sítios, conhecer as pessoas, privar com os sábios e mestres de um tempo que não é nosso, meditar nos lugares impossíveis onde nunca esperas refletir e que, em nenhum momento, nada abale o teu silêncio. 

Com a experiência percebes que nunca será assim. A aventura acaba por perder-se nela própria e é o detalhe que não esperavas que te vai deslumbrar e a fissura mais invisível que te vai fazer cair. A realidade da grande jornada é aleatória e rotineira como os banais dias da tua labuta diária. 

Temos de estar atentos aos sinais, aos pequenos, mas sobretudo, condensar, absorver e viver os que sabemos que são os grandes. O encontro com a manada de elefantes negros foi um desses momentos raros. 

São muito poucas as famílias de elefantes negros livres. Ter podido preservar, viver esta bênção, faz-me lembrar o quanto eu lamento ter de voltar já a casa. Saber que não vou conseguir partilhar verdadeiramente a dimensão daquele momento deixa-me ansioso. Como descreveria o privilégio que vivi?.... 

Então prossigo a minha reflexão… 

Quando está para morrer o grande elefante negro volta ao território de origem. Consegue percorrer milhares de quilómetros de volta ao exato sítio onde tudo começou, mantendo vivo o vínculo sagrado às suas raízes, à sua história que permitiu que novas histórias surgissem. 

É assim que vejo este momento. Regresso não para ficar, mas para partilhar, dar, somar e redimensionar antes de partir outra vez. A nossa jornada espiritual só faz sentido na partida e no caminho quando percebemos quando temos e regressar.