Diários de Tempus 3 – As três formas de alguém estar na nossa vida


Era o meu terceiro dia em Tempus. Mas como o tempo em Tempus não passa, era como se ainda estivesse no primeiro dia. 

Hoje, eu e Bottelli fomos até Terras de Castelsardo, cidade muito antiga onde habitava Mestre Pietro, um velho sábio procurado por quase todos os Mestres da Ordem dos Cavaleiros do Poder para treinar a arte de ler os sentimentos e intenções do outro. Dominar este conhecimento é essencial para todos os Mestre de modo a anteciparem as situações de caos com que se podem deparar. 

À entrada da cidade havia um entreposto de controlo de entradas e saídas. Castelsardo era um território sagrado. Só podia entrar quem revelasse razões fundamentadas. Deixamos claro ao que vínhamos e deixaram-nos passar. 

Mestre Pietro habitava no cimo da colina onde se erguia a Fortaleza Mãe de Castelsardo. O Senhor das Terras de Castelsardo dava guarita a Pietro por este ser o seu mais leal conselheiro. 

Bottelli e Pietro eram grandes amigos. Fomos recebidos de forma graciosa e bem-disposta. Pietro levou-nos até uma das torres da Fortaleza onde nos podemos sentar e contemplar o imenso Mar da Tranquilidade. 

Pietro sabia ao que vínhamos mas a sua postura corporal revelava passividade, descontentamento e alguma passividade. Um momento que era suposto ser sobre nós inverteu-se. Bottelli questionou-o: 

- O que te perturba velho amigo? 

- Ao fim de tantos anos a ensinar os outros, a sentir as suas emoções e ilusões, a dar respostas para os seus desafios, olho para trás e pergunto-me quem ficou comigo? A quem é que bato à porta quando já não souber onde chorar? Onde deitarei o meu rosto quando precisar de colo? ... 

Ambos ficamos desterrados. Também nós já havíamos sido testados pela solidão do amor e afetividade. E de todas as vezes que aconteceu saímos sempre com poucas respostas. Nesta altura lembrei-me de um importante ensinamento que Mestra Edvania me deu em tempos e que partilhei, naquele momento, com os meus companheiros de caminho: 

- Mestre Edvania um dia ensinou-me que as pessoas surgem na nossa vida de três formas: por uma época, por uma razão, para a vida inteira. Alguns passam por nós numa determinada época. Cruzamo-nos pelas responsabilidades que temos em comum, pelo facto de morarmos lado a lado e por um infindável número de razões. Chegam, cumprem a sua estadia e vão. Outros surgem por uma razão. Normalmente são os nossos mentores, mestres ou desafiadores que estão lá para nos ensinar, treinar e fazer avançar para a próxima etapa. Por fim temos os companheiros e companheiras de caminho que estão lá para a vida. Mesmo quando não os merecemos. Nestas alturas, sem ter as respostas, pergunto-me sempre: Quem são aqueles que durante o caminho estiveram sempre lá?