Aceitar-mos a nossa natureza benigna... - Diários de Ethérnia - Parte VIII




Hoje volto à viagem de que nunca saí, mas antes aproveitei para visitar a minha irmã antes de partir.

A minha irmã migrou para a região de Bahar onde vive em família com o seu esposo. É uma Aprendiz Profateri, que um dia desempenhará as mesmas responsabilidades que a minha mãe no nosso ou noutro Clã.

Tiramos a noite para, à volta da fogueira, recordamos as velhas histórias e lições que nos uniam, as aventuras que havíamos passado com os nossos antigos Mestres e as memória mais importantes do nosso estado mais efémero, a nossa infância comum. Uma velha lição em particular sobressaiu nessa noite, a aceitação da nossa natureza benigna.

A minha irmã recordava-me:
"Aceitar a nossa verdadeira natureza é dos desafios mais difíceis. Ninguém gosta de perceber que tem medo, de que ainda não está preparado ou que existem pessoas e neblinas que nos paralisam. 

Somos vencidos vezes sem conta pela nossa própria cobardia, vaidade e cegueira emocional. Existem dias em que o abismo é só isso, o abismo. Não há mais nada, a não ser o negro que nos rodeia. 

Sair da imensidão do negro parece tão impossível que nos esquecemos da nossa outra verdadeira natureza, a nossa natureza benigna.

Somos o confronto permanente entre o bem e o mal, entre o vício e a virtude, entre a luz e a escuridão. O guerreiro capaz de aceitar a sua natureza negra é o mesmo que voltará à sua natureza benigna. Aceitá-la significa abraçar o sofrimento no colo de quem nos ama, voltar ao treino da virtude, calcular o essencial que nos faz levantar todos os dias.

Como eu e tu aprendemos, podemos não escapar para sempre ao nosso lado negro, mas é uma escolha nossa viajar sozinho no seio da sua escuridão. Em dias de noite escolho viajar com os guerreiros que conhecem a luz do dia seguinte."