O Círculo da Inutilidade - Diários de Ethérnia - Parte 4


Era o meu quarto dia em Ethérnia, em Islam. Eu e Bender Marius decidimos ir visitar Fatih Vishnu, uma poderosa Óraculo que me havia recebido por aquelas terra ainda na adolescência do meu treino.

Fatih ficou muito feliz ao rever-nos. Tinha à nossa espera uma eloquente repasto e canetas cheia de hidromel, a bebida sagrada dos momentos de comunhão e celebração entre Mestre Aprendizes.

A conversa evolui para o motivo que nos levava a estar ali durante aqueles dias. Partilhei com Fatih a minhas dúvidas de fé e o resultado da prova do Labirinto do Meso Cosmos Simbólico. Não tinha perdido nem as minhas convicções nem compromisso mas estava cansado, ferido e com vontade de voltar a uma nova viagem, a um novo caminho da redenção. Fatih interpelou-me:
- Sentes que não tens ninguém contigo?
- Nem por isso Fatih. Sinto as pessoas, presenças, amigos e seres do acaso comigo, só que na realidade, nunca ninguém veio ter comigo. - Ripostei.
- Percebo o que me dizes. Vou-te contar a lenda do Círculo da Inutilidade que um dia o meu Mestre me ensinou:

" Um dia um Sábio Mestre, cansado da Simbologia dos dias, da eterna partilha do que cada  um pode ser e da inutilidade do seu círculo de proximidade decidiu abandonar os seus afazeres e procurar nova montanha para repousar a alma. Uma vez por outra lá voltava a casa para garantir que os seus continuavam caminho. Os seus mais próximos não percebiam e comentavam entre si o que se havia passado, que mágoa tão grande teria posto em causa o seu compromisso com a sua missão. Um instigavam os outros sobre o que poderiam fazer, outros treinavam pequenas tentativas de um contacto mais próximo. O tempo passou e num dia o Sábio Mestre partiu de vez. Todos ficaram chocados e criticavam o seu egoísmo e falta de palavra. O círculo que girava à volta do Sábio Mestre quebrava de vez.
Passados algumas épocas anuais o Sábio Mestre voltou para visitar os seus velhos amigos. Muitos lhes viraram as costas magoados com a sua atitude de um passado ainda muito presente.
Entre os alguns que lhe dirigiram a palavra, um dos seus antigos aprendizes perguntou-lhe:
- Sábio Mestre porque partiste e deixaste o círculo que ajudaste a erguer? Não terás sido injusto?
- Velho amigo, nunca parti nem deixei o círculo. O que aconteceu é que  no dia em que vos confiei a responsabilidade de partilharmos o mesmo círculo nunca mais me convidaram a entrar. Sem respostas parti para quem me voltasse a acolher de novo..."