"Nunca perco, ganho ou aprendo..." - Diários dos Viajantes Perdidos - Parte III




Islam foi provavelmente a minha mais importante casa de treino. Foi onde conheci alguns dos meus mais importantes Mestres e onde aprendi a dominar alguns dos meus mais importantes poderes.
Hoje, por terras de Ethérnia, olhos nos olhos com meu Clã de Aprendizes revejo neles parte do caminho que fiz.

Hoje a história é sobre Whita, a Cavaleira Dragão Branco e Voltur, o Cavaleiro Abutre. Para além da amizade e cumplicidade no caminho, tinham poderes muito distintos. Whita era capaz de prever os movimentos e pensamentos do seu adversário e Voltur, por sua vez, conseguia transportar a mente do seu oponente para um universo alternativo, fazendo o mesmo duvidar da realidade que estava perante ele.

Conheci Whita ainda adolescente, perdida nos seus pensamentos numa atitude constante de afronta com o mundo que a rodeava, nomeadamente com o pai. Conheci Voltur mais tarde. Ainda novo, numa postura permanente de confronto com o seu ego, resguardava as suas fragilidades numa aparente presença de segurança e frontalidade.

A história de hoje leva-nos até Ebor, domínio de Ethérnia por onde governam as grandes planícies. Havíamos partido para treinar as artes da meditação , aproveitando os poderes que Whita e Voltur já dominavam. Numa das provas que lhes dei, coloquei-os em duelo de espadas, sendo que poderiam usar todos os seus poderes. Ao fim de algumas horas a frustração tomou conta dos dois. Ambos se anulavam mutuamente, sendo que nenhum deles era capaz de se superiorizar ao outro.

Há noite durante o jantar Whita desabafava a sua frustração:
- Não percebi a prova desta tarde, Mestre. Colocaste-nos em confronto. Mas nada mais fizeste que colocar-nos a anular-nos um ao outro. - questionou Whita.
- Foi a essa conclusão que chegaste? E tu Voltur, que achas?- questionei.
- Concordo com Whita. Cada golpe que dava ela antecipava o meu movimento. Sempre que tentei criar um novo universo paralelo na sua mente para destabilizar os seus movimentos, ela antecipava-me e não permitia que o meu golpe prevalecesse. Ao fim de algumas horas o exercício tornou-se inútil. - retorquiu Voltur.
- No fim de contas, meus amigos, quem de vós saiu vencedor? - Voltei a perguntar.
- Nenhum de nós Mestre. - Respondeu Whita.
- Nada mais errado meus amigos. Ambos perceberam o finito que são um perante o outro e que sem novo treino nunca poderão vencer o "outro" que hoje vos bloqueou. Por outro lado, apuraram os sentidos, melhoraram o detalhe dos poderes que já dominam até à exaustão e estão agora prontos para perceber melhor o que vos falta. A única batalha que alguma vez perderemos é a última, nas outras fica sempre um velho ensinamento "nunca perco, ganho ou aprendo."