Os 3 Ciclos da Inexistência - O Abismo, a Vertigem e a Paralisia - Diário dos Viajantes Perdidos - Parte VII


Era a altura de Alteres, uma das principais festividades de Ethérnia. Por esta altura todos os Mestres Aprendizes ensinam os seus aprendizes uma das mais valiosas lições que lhes podem dar, como escapar aos 3 Ciclos da Inexistência. 

Neste retiro estavam comigo a Mestre Aprendiz Fétis, Mestra Feiticeira das Marés, que dominava a capacidade de manipular os 4 elementos desde que tivesse o elemento água por perto, e as aprendizes Cheetara, Cavaleira Chita, que tinha o poder da velocidade luz, ao ponto de ficar invisível e ainda Lucy, a Guerreira Leopardo. 

Nesse dia decidimos meditar perto dos Carvalhais Milenares de Alternes. A meio decidi parar o exercício e levá-las até a um velho poço abandonado perto do local onde estávamos. Pedi a cada um que recolhesse o objeto mais pesado que conseguisse carregar. Em seguida pedi que os atirassem para dentro do poço. Cheetara atirou um enorme pedaço de tronco velho e húmido que havia encontrado. Lucy, por sua vez, tinha recolhido um enorme fragmento de uma rocha da montanha mesmo ao nosso lado e Fétis, fruto do seu poder, tinha desintegrado uma um velho carvalho já sem vida. 

O poço era conhecido como o “Poço Sem Fundo”. Reza a lenda que qualquer objeto atirado para o seu interior simplesmente desvanece. Pediram-me que lhes explicasse a origem da lenda, mas fingi não ouvir. Em vez disso provoquei-as: 
- Preciso que tragam de volta o objeto que atiraram. 
- Como assim Mestre? Queres que traga de volta o ainda agora atirei ao poço? – questionou Cheetara de forma exaltada. 
- Sim, foi o que te pedi. 
A contragosto Cheetara pediu ajuda a Fétis que usasse os seus poderes para trazer de volta os 3 objetos. Nesse momento parei-as: 
- Quero que os tragam de volta sem recorrerem aos vossos poderes. Usem outros meios, confio em vocês. 
As 3 paralisaram, não conseguiam ver o fundo, não pareciam encontrar uma solução. 

Retirei-me e voltei passado meio dia. Vi as minhas 3 aprendizes completamente imundas e combalidas. Percebia-se que não haviam desistido da tarefa impossível que lhes havia dado.  Dirigi-me a elas e fiz-lhes perceber o orgulho que sentia nelas: 
- Estou orgulhoso do que vejo. Souberam entender os 3 Ciclos da Inexistência e renegar cada um deles. 
- O que queres dizer com isso, Mestre? – Questionou Fétis
- Este “Poço Sem Fundo” significa a realidade maldita, aquela de que não conseguimos fugir. Perante o problema insolúvel não paralisaram. Questionaram, mas tentaram. Perante a falta de alternativas não se refugiaram no Abismo de se sentirem inúteis. Perante a possibilidade de fuga, preferiram não cair na Vertigem da desistência. Estes são os 3 Ciclos da Inexistência. 
A Paralisia leva-nos ao bloqueio emocional, a um labirinto sem saída no qual nunca sabemos como entramos. A Vertigem leva-nos para a memória sobre o pior de nós próprios. O Abismo faz-nos acreditar que não é possível, que já perdemos. Perante todos eles vocês continuaram, tiveram fé, duvidaram, mas não se anularam. Não se esconderam no passado, nem alimentaram o futuro por vir, foram “Existência” no presente.