O Silêncio Nativo - Diário dos Viajantes Perdidos - Parte VIII



Era o dia do desafio do Silêncio Nativo. O dia em que cada Cavaleiro da Ordem dos Cavaleiros do Poder busca apenas estar em plenitude e perceber o silêncio que esteve na sua origem. Contam os Mestres Antigos que é nesse silêncio, no silêncio das origens que encontramos os nossos poderes mais primitivos, aqueles que nascem connosco.

Para este exercício de meditação pernoitamos no Templo de Arnis, um dos mais antigos de Ethérnia.

Comigo estavam as Mestres Tortuga e Aqua Vitae e a Mestre Aprendiz Gaia. Tortuga e Aqua Vitae era amigas inseparáveis. Tortuga tinha o poder de controlar a Neblina, enquanto que Aqua Vitae era a Grande Mestre do Dragão da Água. Era capaz de controlar todos os estados naturais da água, do gelo ao estado gasoso. Ambas estavam comigo à muito tempo e já tinham os seus próprios Aprendizes. Gaia, por sua vez, era mais recente, mas dominava o poder de comunicar com as plantas e os animais, conseguindo que os mesmos obedecessem aos seus intentos.

Em Arnis, no coração do claustro principal do Templo, sentamo-nos  no chão em roda e demos as mãos. Pausamos o coração, enchemos os pulmões e desligamos o exterior. As quatro mentes conectaram-se e deixamos que a nossa aura nos encaminhasse à "origem" de cada um. Por momentos, conseguimos comunicar para além do mundo tangível. Aqua Vitae partilhava que no seus refúgios de sempre havia conseguido transformar a solidão em silêncio. Tortuga recordava os espaços de detalhe que a sua alma havia esquecido na sua origem. Eu, ficava feliz pelo privilégio de partilhar o silêncio dos outros, por conseguir estar, sem pressa de me perder e sem pressa de conquistar. Ao sentir a energia cósmica as minhas companheiras, perdi-me na sua essência e voltei ao meu silêncio nativo, o da infância dos mundos imaginários, o do início em que nem sabia o que era começar. Gaia, por inexperiência, não nos conseguia acompanhar.

Naquele dia, já de regresso a casa, e depois daquele intenso momento, lembro-me que perguntei a Gaia:
- Quando é que percebeste que não te lembravas que precisavas de começar?
Gaia, surpreendida, respondeu:
- Não tenho resposta, Mestre.
- No dia que souberes responder encontraste aí o teu Silêncio Nativo...