Diários do Crepúsculo - "A diferença entre o que é e deixou de ser..." - Parte I


Por estes dias parti para Ammaia, as mais extensas planícies de Ethérnia, também conhecida como a Terra do Crepúsculo. Todos os dias, pela hora da chegada do momento noturno, o Astro Maior pousava vagarosamente deixando ao longe uma enorme passadeira encarnada de luz que terminava mais um dia quase perfeito.

Nesta aventura levava comigo os meus aprendizes Voltur, Leo e Yber. O nosso objetivo do dia era subir ao Templo Marvenir e poder privar com Mestre Umare, conhecido pela sua capacidade de ajudar os mais displicentes guerreiros a fechar os seus ciclos mais negros ou de má memória. 

Marvenir fica numa enorme montanha quase impenetrável, para lá chegar só com um guia experiente. Como Umare já nos esperava, foi ele próprio a receber-nos no sopé da montanha e a acompanhar-nos até às entranhas de Marvenir.

Após algumas horas de caminho, estafados, chegados ao topo, a visão contemplativa de todo o horizonte compensou. Descansamos por algumas horas.

No final do dia, perante o Crepúsculo, era a hora da cerimónia do "Memorius", o momento em que o guerreiro escolhe fechar um ciclo "que nunca chegou a resolver".

Eu e Yber não procurávamos fechar nenhum ciclo em particular, aquele momento era dedicado a Leo e Voltur. 

Umare levou-nos até Cálique Memorius, um enorme lago no centro do Templo. À nossa frente tínhamos quatro pedras, cada uma representava um dos quatro elementos: terra, água, ar e fogo. Umare pediu a Voltur e Leo que escolhessem uma das pedras: escolher o fogo significava fechar um compromisso; terra significava perceber uma contaminação; escolher água passava por revelar para que servia determinado poder; ar significava perceber um novo poder que ainda não dominávamos. Voltur escolheu a pedra terra e Leo escolheu a pedra ar. Como mandavam as regras da cerimónia, ninguém devia revelar o ciclo que pretendia fechar. 

Após a ordem de Umare, lançaram, cada um, na sua vez a pedra ao lago. Foi então a vez de ouvir Umare:

- Meus amigos, os vossos caminhos encontram-se, ambos procurais a mesma resposta. Sabeis a diferença entre o que é e o que deixou de ser?

Paralisados, Voltur procurou responder:

- Penso que sim Mestre. O que somos é o agora, o que deixou de ser já não pode ser outra vez.

- Enganas-te jovem Mestre Aprendiz. O que deixou de ser só deixa de ser no dia em que a noite se põe. Se nunca viste a noite nunca percebeste o dia, então o que deixou de ser continua a ser. Não confies em quem só é noite ou em quem é só dia. Tenta antes perceber o que "é" na tua noite e o que "é" no teu dia. Depois estás pronto para a próxima batalha.