O verdadeiro poder do Silêncio... - Diários dos Universos Paralelos - Parte II

Segundo dia em Dorey. Hoje teria a minha primeira experiência de tentativa de conexão com os Universos Paralelos. Pela primeira vez iria tentar o poder da Travessia.

Joberto levou-me novamente às margens do rio Dorey para uma pequena enseada onde estava erguida uma estátua a um velho monge já desaparecido, Lautaro, também denominado como o Guardião Silencioso das Florestas de Dorey. Dorey não só era reconhecida pelo majestoso rio mas também pelas luxuriantes florestas. Nesse dia esperamos pelo por do Sol.

- Meu amigo, a Travessia implica três momentos. O momento do silenciamento, o momento da conexão e mensagem e o momento do retorno. Para ativares o silêncio que te permite entrar em conexão tens de estar ligado com um dos 4 elementos: terra, água, ar ou fogo. Hoje vamos fazer a tua primeira Travessia através da água. - explicou Joberto.

Esperamos que o Sol estivesse no limiar de desaparecer e mergulhamos nas águas do Dorey. Segui Joberto até ao fundo. Ai, através de gestos, deu-me a indicação para me sentar em posição de Lotus. A escuridão apoderou-se de nós. Retive a respiração, pausei o coração e os meus batimentos começaram a diminuir consistentemente e, por fim, desliguei.

Voltei do transe e encontrei Joberto e um desconhecido que nunca havia visto. Joberto apresentou-me. Era Lautaro, o monge da estátua que havia visto na enseada. A Travessia tinha resultado, embora não percebesse porque me tinha calhado na minha primeira Travessia o Guardião Silencioso das Florestas de Dorey.

Joberto contou-me a história de Lautaro. Este havia feito durante o seu treino um voto de silêncio eterno. Tinha como missão cuidar das Florestas Mágicas de Dorey. Durante a sua vida havia salvo e ajudado milhares de viajantes perdidos e protegido as imensas Florestas de Dorey da cobiça externa, sobretudo da exploração furtiva dos seus minerais e flora, conhecidos pelas suas propriedades medicinais e mágicas. Tudo isto sem nunca ter proferido uma única palavra. Na nossa realidade, apesar da estátua que lhe tinham erigido e velhas lendas quase ninguém conhecia o seu legado. Joberto deu-me ainda a conhecer parte dos seus escritos. Num deles estava a seguinte lição que me persegue até hoje: "Uma semente cresce em silêncio, mas uma árvore quando cai, tomba em estrondo. A destruição é ruidosa, mas a criação é silenciosa."

Perante este episódio Lautaro permaneceu sempre em silêncio. De repente a minha visão começou a ficar turva. Percebi que a minha primeira Travessia estava a chegar ao fim.