"A importância dos caminhos secundários..." - Diários do Livro dos Elementos - Parte V



Ao sétimo dia no Arquipélago de Milénia partimos para a ilha de Saitnaya, um lugar mágico, intemporal, onde rezam as lendas viveu o Deus Trovão. Seria em Saitnaya que realizaria a última das Provas Elementares, a Prova do Trovão. Esta prova é a mais estranha e impossível das 4 Provas Elementares. Junto à Calçada do Gigante, por onde desliza um enorme rio de lava incandescente, temos de conseguir, com o poder da nossa aura alinhada com a nossa mente e intuição, dominar os elementos e gerar uma tempestade capaz de fazer nascer um trovão que desvie o leito de lava para fora do seu curso, obrigando este a tecer um novo canal.

Para esta prova tinha de ir sozinho. Há determinados poderes que cada Mestre usa que está impedido de os partilhar com os seus aprendizes até estes estarem preparados para os compreenderem. Este era um desses momentos. Deixei Yber, Voltur e Leo no topo da colina que dá acesso a Calçada do Gigante. Este enorme monumento natural erguesse perante o oceano profundo. O caminho não é muito difícil, mas a sua beleza é imensurável.

Chegado ao leito de lava, sentei-me nas suas margens num ponto amplo que me desse o máximo de visão possível. Fechei os olhos, evoquei a memória dos velhos mestres, com as minhas mãos toquei o solo e deixei que o meu Cosmos expandisse. Ao fim de quase seis horas de focalização comecei a sentir o vento a ficar mais frio, algumas nuvens começaram a formar-se e quando cheguei ao ponto máximo de expansão do meu Cosmos, liberei a maior descarga de aura energética de que me lembro. Nessa fase, perante uma chuva suave, um enorme Trovão esventrou o maciço rochoso mesmo à minha frente. 

A dois metros do local onde me havia sentado um novo rio de lava corria para o mar imenso. Estava muito cansado, mas percebi naquele dia que já me conseguia fundir com os quatro elementos e elevar o meu cosmos a um novo nível.

Nessa noite, enquanto jantávamos, partilhei a minha experiência com Yber, Voltur e Leo. Leo, surpreendida e ainda um pouco incrédula perguntou:
 - Mestre, até agora compreendi todas as provas que realizaste. Mas esta última, para além de parecer um pouco impossível, na minha mente, não faz qualquer sentido. O que significa a prova do Trovão. 
Compreendia as suas dúvidas e resistência e respondi sem delongas: 
- A Prova do Trovão existe para nos lembrar dos nossos caminhos secundários, aqueles que na ilusão do caminho principal nos fizeram realmente como somos e traçaram a nossa linha do tempo. Ao abrir um novo canal para a lava passar dei forma a um novo ciclo de eventos. Em contacto com a água a lava solidificará, gerará novos habitats para os seres marinhos, ocupará um espaço que dará forma a um novo cenário e fará nascer uma cadeia de acontecimentos que por si gerarão novas histórias, oportunidades e desafios. A prova do Trovão existe para te lembrar que deves continuar a estar atenta aos detalhes, aos atalhos que escondem os sentidos que não desvendamos, aos caminhos secundários que se tornarão na estrada do dia a dia. No final importa que percebas que o teu caminho não é apenas a estrada que percorres, são todos os pontos de paragem, atalhos e desvios que a tua coragem e amor te permitiu fazer. 

No dia seguinte era altura de levantar acampamento. Estava na hora de voltar ao combate real.