"Reencontrar a Serenidade" - Diários do Livro dos Elementos - Parte IV


O Livro dos Elementos é o livro sagrado da Ordem dos Cavaleiros do Poder, a nossa Ordem. É a organização que ao longo dos tempos defendeu a antiga tradição, preservou os conhecimentos sobre as formas de combate milenares e protege o universo conhecido das Forças da Escuridão. O Livro dos Elementos retrata as várias fases de preparação de um Mestre Cavaleiro do Poder, também denominado de Mestre Aprendiz. 

O Livro dos Elementos retrata o caminho de cada guerreiro, de cada Cavaleiro como um percurso que nos liga, sem espaço para dúvidas, ao Cosmos e aos seus 4 elementos: a terra, a água, o ar e o fogo.

O Cosmos significa o universo simbólico e metafísico que liga a natureza, os animais, as pessoas, as existências, os astros, resumidamente, o "Todo". E encontramos essa conexão, segundo o Livro dos Elementos, através da nossa relação com os 4 elementos essenciais. 

Para completar o nosso treino enquanto Mestre Aprendiz devemos, pelo menos uma vez na vida, completar as 4 Provas Elementares, que retratam e confirmam a capacidade de nos ligarmos ao Cosmos. As 4 Provas Elementares retratam a evolução dos 4 elementos; a terra assume a forma da Montanha; a água ganha a dimensão do Mar Imenso; o ar ganha a dimensão do Vento; e o fogo revela-se na prova elementar do Trovão.

Hoje, em Milénia, regressamos a Milénia Centrum para completar a prova do Vento.

A prova do Vento pretende fazer-nos perceber que as tempestades mais corrosivas são espaços que merecem ser vividos, para que na tempestade que se segue sejamos capazes, fruto da experiência, encontrar a serenidade no detalhe impossível. Resumidamente, na mais sangrenta das batalhas, o guerreiro é levado a concentrar-se na flor que de alguma forma foi capaz de sobreviver no meio do confronto assassino.

Para realizar a prova temos de conseguir caminhar sobre as águas da Lagoa das Duas Faces e resgatar uma das flores de Vento que só podemos encontrar no centro da Lagoa. Não podemos mergulhar, não podemos nadar. Temos de nos alinhar com o Vento, perceber a sua serenidade e caminhar com ele, elevando o nosso espírito a um estado extremo em que não sentimos os nossos próprios passos.

E assim foi. Ainda pela manhã sentei-me nas margens da Lagoa das Duas Faces. Desliguei  a mente, deixei que a brisa da manhã me chamasse e desmaiei mesmo ali. Nesse momento senti a minha aura a levantar-me e o Vento a transportar-me. De forma suave e quase inconsciente comecei a caminhar, sentindo levemente o espelho das águas de Duas Faces. Estava sereno, sem ponta de nervosismo e leve na forma como percecionava os meus 5 sentidos e a sua relação com a natureza que os rodeava.

Chegado ao centro da Lagoa das Duas Faces colhi 4 flores de Vento e desta vez , consciente, voltei às suas margens. Há minha espera estavam Leo, Voltur e Yber. Dei uma flor a cada um e fiquei com uma para mim. Pedi que cada um se sentasse em círculo e deixamo-nos ficar a observar a acalmia de Duas Faces e aquele momento intemporal. Durante este encontro partilhei:

- Meus amigos, obrigado por estarem aqui hoje. Queria que este momento fosse partilhado convosco. 

- Agradeço o momento Mestre, mas continuo confuso. Como foi possível caminhar sobre as águas? questionou Voltur

- É uma pergunta que só o coração de cada um consegue responder em pequenos momentos, quando percebes que entendeste o que era a tua Serenidade. Quando treinamos aprendemos que nem todas as grandes lições e poderes são aprendidos no limite. Interiorizamos, mas é algo que dificilmente conseguimos fazer porque um guerreiro treina sempre no limite. Chega a achar que dar de menos é facilitar, vacilar. - respondi.

- Então o que é que aconteceu hoje? Questionou Leo

- Hoje foi o momento da Serenidade. O momento em que percebes que já não precisas de limites, o momento em que no meio da grande guerra encontras o teu segundo de paz, em que no meio da grande tristeza abraças com o amor que não sabias que tinhas, o momento em que no meio da perdição paras para conseguires olhar quem amas. Hoje reencontrei, novamente, a minha Serenidade.