Estes próximos episódios serão dedicados à história de Sarah, a Mestre Aprendiz do Unicórnio. A Mestre que ficou sem Mestre e se viu obrigada a entender os limites e as limitações como o seu novo Mestre do Acaso que fizeram despertar em si a liderança e resiliência que não sabia que escondia.
Conheci Sarah em Ribai, aldeia perto de Ethérnia, onde nasci. Era ainda Aprendiz em Iniciação na Ordem dos Cavaleiros do Poder e integrava o Clã Licorn, que habitavam as Montanhas de Haves, bem nas fronteiras de Ethérnia, à milhares de anos.
Estava a ensinar a arte da espada a alguns dos meus aprendizes quando me foi apresentada. Era aprendiz de Mestre Sue, Mestre dos Oceanos, que também havia sido minha aprendiz.
No dia em que nos conhecemos, Sue pediu para que a ensinasse a empunhar uma espada que tinha quase o seu peso. Percebi que a prova era impossível. Mas fiz o que Sue me havia pedido. Algum motivo ela teria.
Não foi preciso muito tempo para perceber que Sarah seria incapaz de levantar e manejar uma espada que pesava tanto como ela. Mas teimosa e persistente, Sarah não desistiu. Acabaria por ser Sue a desistir dela, só pelo facto de Sarah não ser capaz de pedir auxílio e não revelar a humildade de se recolher e voltar ao treino.
Durante o nosso treino como aprendizes da Ordem dos Cavaleiros do Poder somos levados a aprender que nem todas as armas foram feitas para todos os guerreiros. Devemos, à luz das nossas limitações e potencial, encontrar a arma que nos acompanhará e será o prolongamento da nossa alma de Cavaleiro.
Nessa noite, após Sarah ter sido abandonada por Sue, conversamos pela primeira vez. Perguntei-lhe porque havia persistido no erro de dominar a arma impossível. Sem meias palavras respondeu-me:
- Não sei se a arma que me deram era impossível. Acredito sempre que consigo subir qualquer montanha até ao momento em que a deixo de ver. Parar para desistir nunca foi uma opção.
- Há uma diferença entre desistir e parar para reavaliar. É importante que percebas que há limites e tens limitações. E eles não estão lá para te pararem, mas para te mostrarem que há mais caminhos. - interpelei-a novamente
- Mesmo assim, desistir nunca foi uma opção. - respondeu-me de forma firme
A nossa conversa terminou por ali. Sarah voltaria para Sue.
Um dia, passado um longa temporada, vi Sarah com a mesma espada que não havia conseguido dominar no primeiro confronto que havíamos tido. A espada era a mesma, mas Sarah estava mais forte, ágil e focada. Desta vez era ela a ensinar os novos aprendizes de Sue a arte da espada impossível. Os seus limites e limitações tinham dado lugar à sua liderança e resiliência. O mundo estava prestes a conhecer a Mestre Unicórnio.