"Quando o silêncio já não chega... " Diários do Unicórnio - IV Parte

 


Hoje conto o último capítulo sobre a Mestre dos Poderes Brancos, a Mestre Unicórnio, Sarah de Delea.

Hoje conto-vos o episódio mais estranho que passamos juntos, quando ambos treinávamos o poder da "Esmuria", a capacidade de um Mestre ler o silêncio do seu adversário no calor do confronto. Dominar a "Esmuria" pode ser uma grande vantagem no campo de combate. Conseguimos antecipar os movimentos dos nossos adversários, manipular a direção que a batalha seguirá e perceber as emoções que governam o coração de quem enfrentamos em campo aberto.

Para dominar "Esmuria" somos levados a Islam ao Templo das Lágrimas de Sangue, mais precisamente às suas catacumbas, ao chamado Labirinto de Sangue. Para nos treinar estava Ant Elael, Mestre Simbólico do Templo. O Labirinto é completamente consumido pela escuridão. Durante o treino meditamos durante horas na penumbra e, libertando a nossa aura, procuramos a presença dos outros Mestres que meditam connosco. Somos ensinados a pronunciar o cântico secreto de "Esmuria" durante o processo. O cântico leva-nos a um transe que eleva a nossa aura e nos permite encontrar o nosso adversário no seu silêncio e concentração. Com o tempo começamos o treino ativo e de movimento, usando as nossas armas de eleição, preparando a nossa capacidade de usar "Esmuria" no campo de batalha.

O treino durou semanas. Tinha chegado a prova final. Esta passava por defrontarmos um adversário saído por sorteio. Tínhamos o direito de escolher a arma que quiséssemos e tínhamos 5 minutos para tentar derrotar o nosso oponente recorrendo ao "Esmuria". Em sorteio saiu-me Sarah.

Escolhi a espada, Sarah escolheu a lança Alabarda. Ant Elal dava início ao confronto. Por mais que tentássemos, o meu esforço para penetrar no silêncio de Sarah esbarrava na sua tentativa de entrar no meu. O meu "Esmuria" anulava o dela. E assim chegamos ao final do combate sem que um se tivesse sobreposto ao outro. No fim do combate questionei Ant Elael:

- Mestre, quando nenhum dos Mestres consegue invadir o silêncio do outro através do "Esmuria", o que significa?

- Ambos tentaram invadir o silêncio do outro, antecipar os seus movimentos, prever o próximo passo. Mas ambos treinaram da mesma forma, aprenderam com a mesma técnica. Embora cada um tenha aprendido de forma diferente, os vossos poderes equivalem-se, o que faz com que o teu "Esmuria" anule o de Sarah.

- E então... Como elevamos o nosso poder? - questionou Sarah.

- Quando o silêncio já não chega, por vezes é importante voltar à agitação do abraço amigo, do "estar" desorientado de um velho conhecido. Quando o silêncio já não chega é preciso que nos deixemos perder por um instante naquilo que nunca treinamos só para nos voltarmos a encontrar no que sempre fomos, finitos e imperfeitos.