As origens do silêncio... - Diários do Silêncio - Parte 1

 

Por estes dias vi-me obrigado a isolar-me no Forno de Pentatauro, uma velha ermida perto das margens do Mar de Atlante. Em pequeno parte da minha infância foi passado em Forno de Pentatauro. Conhecia as suas praias como  a palma da minha mão. Foi na imensidão dos seus rochedos que assisti a alguns dos crepúsculos mais místicos.

Estava em fase de reclusão, de autoanálise sobre os horizontes que antecipavam as próximas batalhas. Era uma tarefa que tinha de fazer sozinho. Quando um mestre aprendiz chama a si dias de reclusão, ele sabe que são dias de retiro, com o mínimo de distrações possíveis, apenas com a natureza e horizonte como companheiras.

Os meus dias de reclusão não tinham um objetivo definido, eram um voto momentâneo de silêncio interior só para perceber a substância do ruído à minha volta.

Num dos meus momentos de meditação em frente ao Mar de Atlante fitei o horizonte, fechei os olhos,  deixai a brisa tomar conta do meu tato e o leve calor do Sol embalar-me os pensamentos de forma atordoada.

Em que pensava? Lembrei-me da minha Mãe e das imponentes  lições de vida sobre o que devia e não devia fazer. Lembrei-me do meu pai a correr na praia a meu lado e o meu sentido de humor ausente por ter perdido mais uma corrida que nunca ganharia. Lembrei-me do meu último mergulho gélido por entre a desafiante onda proibida. E por fim, lembrei-me de Lady Joannis, a dona da velha taberna de Forno de Pentatauro, onde parava para cear quando era criança.

No fim deste momento de recolhimento voltei a perceber que sempre que voltamos a calcular o essencial do nosso silêncio, este vai eminentemente levar-te de volta às tuas raízes, ao ar que outrora respiraste, à essência dos primeiros traços de magia que sentiste.

"O nosso silêncio mora em muitas casas, mas a primeira de todas está na origem de quem nos ensinou o que significa... estar em silêncio."