"O importância do verdadeiro foco..."Diários do Deserto - Parte III

Os primeiros raios de Sol permitiam antever o amanhecer pleno. Era o dia da minha segunda prova da Inversão de Papeis com Uisce. Era o momento para testar a minha capacidade de entender que o "nosso próximo passo é sempre o mais difícil".

Antes de sermos aprendizes somos levados a descobrir, numa primeira instância, que devemos ter em conta tudo o que aprendemos e a utilidade que damos à sabedoria que acumulamos. Não existe teoria sem prática, não existe conhecimento que se torne em sabedoria sem que isso se reflita no nosso dia a dia. Por isso a primeira prova para sermos aprendizes passa por "trazer a sabedoria do último passo". 

Depois, somos levados a encarar o desafio seguinte como o mais relevante, independentemente do tamanho da montanha que temos para subir. Ainda antes de começarmos o treino, o nosso Mestre coloca-nos à prova, de modo a perceber-mos que não existem desafios grande ou pequenos, existem batalhas que temos de combater. Por isso dizemos que "o próximo passo é sempre o mais difícil", independentemente do tamanho deste, porque é o próximo. O passado ficou, só temos o futuro pela frente, e esse é próximo passo.

Por fim, na terceira parte, como já vos tinha contado, antes de nos iniciarmos como aprendizes vem a parte em que somos lembrados que somos finitos, limitados e que nessa condição só temos um caminho, pedir auxílio e voltar ao treino. Na Inversão de Papeis voltamos a viver cada um destes momentos. 

Já tinha passado pela primeira prova, estava na altura de viver a segunda. Se bem se lembram, na primeira prova ensinei Uisce a ler o rasto marcado por um Leopardo de Hajar, sem que o tenhamos encontrado. Para a segunda prova pensei que iriamos continuar essa aventura. Nada mais errado. Uisce, como era seu temperamento, deu-me completamente a volta.

Levou-me até ao ponto mais alto que horizonte permitia vislumbrar. Quando já não era possível escalar mais, apontou ravina a baixo e mostrou-me um ninho de falcão. Nele, um casal de falcões descansavam. Uisce pegou em duas pedras e lançou sobre os dois falcões. Ambos colocaram-se em fuga. Uisce, do nada, deu a ordem:
- Persegue os dois falcões.
Paralisei durante segundos, não sabia que sentidos despertar, que decisões tomar. Tinha uma centelha de segundos antes que as duas aves de rapina desaparecem no horizonte.
- Lamento Uisce, mas se tentar perseguir os dois, ambos escaparão. 
E assim foi, ambos escaparam.
- O que tens para me dizer, Abraham? - perguntou Uisce após o sucedido.
Percebi que estava perante o meu segundo passo da Inversão de Papeis. Sem reservas, respondi:
- Uisce, minha amiga. Perante este episódio, percebo que um dos mais importantes poderes que aprendi com o a maturidade foi o foco... A atenção dividida trabalha sempre contra nós. A maturidade ensina-nos a escolher melhor as batalhas, a dividir melhor o tempo, a completar várias demandas ao mesmo tempo. Mas na hora da grande batalha que vai decidir a guerra, o foco tem que ser total. Todo o teu treino levou-te aquele momento crucial. Aí é a altura de encontrar o verdadeiro foco, a responsabilidade assim o exigirá.

Uisce concordou, o meu segundo passo estava feito. mas apesar do meu sucesso, matinha no meu coração a pergunta do dia anterior: Onde estava o Leopardo de Hajar? 



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Hoje seria