“Encontrar o meu Ubuntu…” - Diários do Caminho da Transcendência… - Parte II

 


Depois de 3 dias de caminho chegávamos a Bukara, a primeira das 3 capitais sagradas de Sírius. Hoje, eu, Milnar, Yoannes e Pachamama iríamos passar pela primeira das 3 provas do Legado, a prova do Ubuntu. Nesta prova somos levados a revelar a sabedoria que acumulamos na relação direta com os outros. Somos levados a perceber a missão de que “sou o que sou em virtude do que todos somos”. A prova nunca é igual, depende da intuição do Mestre do Legado que nos acolher.

Os Mestres do Legado são antigos anciãos que guardam os segredos do grande legado da Ordem dos Cavaleiros do Poder. O grande legado era composto por uma série de pergaminhos muito antigos, ainda anteriores à Ordem dos Cavaleiros do Poder, guardados na Biblioteca Mor de Bukara. Continham saberes ancestrais sobre Filosofia, Matemática, Alquimia, entre outros. Foi parte desse saber que deu origem ao Livro dos Elementos, o livro sagrado da Ordem dos Cavaleiros do Poder.

A prova do Ubuntu tinha lugar nos Templos Abandonados de Uzbeque, nas montanhas nas imediações de Bukara. Apesar do nome ser de Templos Abandonados, estes eram tudo, menos abandonados. Eram um local mágico, onde o tempo havia parado, e onde os Mestres do Legado que lá habitavam não envelheciam. Apesar dessa suposta vantagem, estavam confinados a habitar nos Templos de Uzbeque para sempre. Era o preço a pagar pela responsabilidade ancestral que haviam abraçado. Dizia-se que saindo, o Mestre do Legado abdicava do seu poder acabando por morrer.

Fomos recebidos nos Templos por uma das aias do Mestre Supremo de Uzbeque. Ela dirigiu-nos até Oruma. Ele seria o Mestre que nos colocaria à prova.

Oruma deu-nos as boas vindas e levou-nos até umas tendas fora dos Templos:

- Meus amigos, estes são os vossos aposentos para os próximos dias de treino. Descansem. Amanhã, mal o Astro Maior se levante começamos a nossa jornada de treino.

Surpreendidos com os aposentos que nos tinham sido confiados, não nos fizemos rogados e aceitamos com humildade o que nos havia sido oferecido.

Nos primeiros dias treinamos a meditação, cultivamos flores e aprendemos a domar os cavalos selvagens de Uzbeque. Não percebíamos para quê, mas não nos parecia oportuno questionar o tamanho das tarefas que nos estavam a ser confiadas.

Após alguns dias, Oruma decidiu mudar a rotina e levou-nos para a Sala dos Escudos dos Templos Abandonados. Á nossa espera estavam pelo menos mais três dezenas de aprendizes de Mestre Oruma. Este pediu a Yoannes, Pachamama e Milnar que se juntassem a eles. A mim deu-me apenas a tarefa de observar.

Em seguida distribuiu um escudo e uma adaga de ouro a cada um. Pediu que cada aprendiz esculpisse com a adaga o seu símbolo na parte interior do escudo. Por fim, deu ordem para empilharem todos os escudos no chão, onde já se encontravam dezenas de outros escudos. Entretanto dirigiu-se a todos:

- Tenho aqui esta ampulheta. O tempo vai começar a contar. Têm até o último grão de areia para encontrarem o vosso escudo.

O tempo não era muito. Por isso, mal caiu o último grão de areia, ninguém tinha encontrado o seu escudo. Nesta altura, Oruma pediu-me para intervir:

- Meu bom amigo, o que achas que podemos fazer?

- Se me permite Mestre, vou criar uma variante da prova.

Oruma consentiu com a cabeça. Então dei a indicação:

- Terão exatamente o mesmo tempo. Mas desta vez devem pegar no primeiro escudo que encontrarem e entregá-lo ao aprendiz que nele redigiu o seu símbolo. Devem completar este movimento, tantas vezes quantas o tempo da ampulheta permitir.

Apesar da confusão quase todos conseguiram encontrar o seu escudo em quase metade do tempo. Oruma sorriu e abraçou-me. A prova do Ubuntu estava superada. Os primeiros deias de treino haviam sido apenas uma distração para por à prova os meus sentidos e foco.

Para fechar o momento, Oruma pediu para que me dirigisse aos seus aprendizes sobre o momento de hoje. Fiquem paralisado por alguns momentos, mas não me retive:

- Amigos, gostava de partilhar convosco o meu Ubuntu de hoje. Como ainda agora podemos perceber, há batalhas em que estamos tão centrados em vencer por contra própria, que já partimos derrotados. Noutras, perdemos tanto atempo a tentar demonstrar o que podemos ensinar aos outros que nos esquecemos como nós próprios aprendemos. Como Mestre, há muito tempo aprendi algo que gostaria de vos recordar: Digam ao outro o que sabem e ele esquecerá… ensina ao outro o que sabes e ele recordará… envolve o outro na tua caminhada e ele aprenderá. É assim para aprendermos, e é assim para sermos felizes.