Chegara a Islam à 2 dias. Fiquei pelas Montanhas do Xisto na casa de um velho amigo, Mestre Edh. Edh e eu éramos conhecidos de longa data, ambos havíamos treinado com Mestre Ant Elael no Templo das Lágrimas de Sangue.
Edh recebeu-me calorosamente com um abraço. Era hora de jantar. Estava faminto. Durante o nosso repasto Edh questionou-me:
- Que pretendes com o teu Signum e que papel esperas que eu tenha?
- No concreto meu bom amigo, nada espero, vou com a viagem. Pelo meio as conversas, as caminhadas e a corrente dos dias trarão à tona o que precisa de ser recordado... o que precisa de ser treinado... - respondi.
No dia seguinte fomos até às Fragas do Xisto Imenso para mergulhar nas gélidas águas dos seus imponentes poços, esculpidos pelas frenéticas cascatas que esventravam as montanhas. Aí paramos para ver o pôr do Sol numa rocha centrada por duas enormes fragas.
Conversa puxa conversa e acabamos a refletir sobre o facto da distância que temos entre nós nos ter aproximado ainda mais. No meio da conversa fiz sobressair uma ideia:
- Sabes Edh, fui aprendendo que a distância tem tanto de benigno como de maligno. Vi, senti e aprendi o que a distância, a falta de "olhos nos olhos", pode fazer aos homens e às mulheres. Deixam de comunicar. Passam a tentar descodificar-se com base numa impressão abstrata. Quando se apercebem, o muro que ergueram já não dá espaço para ver o outro lado. Velhos amigos dão origem a desconhecidos desconfiados, a adversários improváveis, a guerras sem nome.
- É verdade Abraham, mas a proximidade também vive dessa dualidade. Tanto permite construir a ponte como erguer fronteiras invisíveis. - acrescentou Edh.
Aquela dissertação deixou-me sereno e em paz com as escolhas que havia feito na minha presente realidade. Interiormente apontei os ponteiros ao meu utensílio de escrita e redigi a seguinte memória no meu diário simbólico: "A distância e a proximidade são sinónimos quando te vês ao espelho..."