A história que nunca contei... - Diários do Guerreiro Nómada - Parte III



Como já vos contei, por estes dias estava a fazer o meu Signum, também conhecido como o caminho do Sempre. Partimos sem destino para os locais onde descobrimos a origem dos nossos poderes, voltamos a reencontrar os nossos Mestres, os aprendizes que mais nos marcaram e procuramos perceber o que mudou no nosso coração. Tentamos entender o nosso "Sempre".

Nos últimos dias estava em retiro com Mestre Edh nas Montanhas do Xisto de Islam. Num desses dias fomos até ao Vale de Louzan, onde eu e Edh havíamos treinado as Artes da Guerra através da espada, varapau e lança. Ant Elael tinha sido o nosso mentor por aqueles tempos, mas havia sido Mestre Lucile, a Mestre Guerreira Mãe, que nos havia introduzido as Artes da Guerra na sua dimensão mais oculta, mágica e plena. 

Paramos no Templo da Ermida do Velho Sábio, no coração de Louzan. Tínhamos como plano meditar ao som das águas do Louzan, rio com o mesmo nome que circundava o vale. Nesta tarefa teríamos o privilégio de rever Lucile. Mas o dia tinha preparado uma surpresa que me marcaria para sempre. 

Todos nós temos segredos que guardamos para a vida, mas que mais cedo ou mais tarde encarregar-se-ão de nos voltar a encontrar. Um dos que nunca revelei, foi o da Falange, grupo de Aprendizes de Guerra treinados por Mestre Lucile nas Artes Avançadas da Guerra Oculta. 

Eram cinco. Durante anos foram formados nas mais ancestrais artes de combate e estratégia por Lucile. Tinham como legado e missão solene perpetuar os seus ensinamentos. Eu e Edh fazíamos parte desses cinco. Os outros eram Freyre, Sam e Sonny. 

Para o exercício de meditação que nos esperava, Lucile também havia convidado Sam, Freyre e Sonny. Em mais de vinte anos, está era a primeira vez que nos juntamos outra vez.

O mito da Falange era contado por vários Mestres, como o grupo de Aprendizes que ascenderam a Mestres e permitiram que as Artes Ancestrais da Guerra Oculta fossem hoje parte do treino de todos os Aprendizes. Mas quem eram e como tinham surgido era uma história que havia sido mantida em segredo. As suas aventuras e lições ecoavam na lenda sem que ninguém soubesse muito bem de quem se estava a falar. 

O encontro entre nós os cinco fica para outro episódio, mas hoje recordo o meu grupo nativo de Aprendizes com quem terminei o meu treino de Mestre Aprendiz. Éramos a Falange, a elite de Aprendizes da Ordem dos Cavaleiros do Poder. Eu Abraham, era o Mestre Dragão de Fogo, o pensador do grupo, o estratega, o mais prático e o que melhor dominava a arte da espada. Linus Freyre, era o Mestre da Lua das Duas Faces, o músico do grupo, o especialista em autoconhecimento e o que melhor dominava a arte do varapau. Edh era o Mestre Dragão da Montanha. Era a voz da razão, o mais calculista, o matemático e negociador das causas impossíveis. Era o mais calmo e pacífico de todos. Era o melhor na arte do combate corpo a corpo. Lia o adversário no campo de batalha como ninguém. Sam era o Mestre Dragão do Vento. Era o mais sonhador, imprudente, o melhor na arte da lança e o que menos seguia as regras. Era o mais cético de todos, o mais difícil de convencer, mas também em contradição, o mais apaixonado. Por fim, Sonny. Era, a inventora do grupo, a guerreira estratega da solução engenhosa que mais ninguém se lembrava. Era a Mestre da Noite. Conseguia prever o que mais ninguém conseguia. Tinha um sentido de humor particular e dominava como ninguém as artes da dupla espada.

Os cinco formávamos a Falange. Vivemos juntos cinco épocas anuais que nos mudaram para sempre. Até hoje recordamos a principal lição que Lucile nos deixara:
- Tens em ti todas as histórias dos que morreram para que pudesses aprender o que terás o privilégio de ensinar. Cada golpe que provocares, cada história que contares, cada aventura que viveres, vivem de novo em ti todos os que nunca desistiram... Olhem para os que se seguem a vocês pelas histórias que ainda vão contar e não pelas histórias que contaram. Sois responsáveis pelo futuro, não pelo que ficou por fazer ou foi mal feito. Acreditem no que ainda podem fazer. O resto a Liberdade fará acontecer.