"De volta à ilha de Gorge..." Diários do Guerreiro Nómada - Parte IV


Tinham já passados dez dias desde que tinha iniciado o meu Signum, o caminho do “Sempre”.

Já vos contei sobre o mito da Falange no último capítulo. Tratasse do grupo de Mestres Aprendizes com quem aprendi o meu caminho de Mestre e ficaram para a história das lendas. Havíamo-nos reencontrado em Islam com Mestre Lucile, a nossa principal Mestre quando demos início ao nosso treino enquanto aprendizes. Depois daquele estranho encontro viajamos os cinco até à ilha de Gorge, onde iriamos continuar a nossa viagem. Estava eu, Mestre Lucile, Sam, Freyre, Edh e Sonny.

Gorge é parte dos territórios de Milénia, as terras da magia intemporal.

A nossa aventura passava por descer as enormes Colinas do Cobre até às Fajãs de Milénia, povoações coladas ao mar e de acesso quase impossível por onde habitam os cinco Mestres do Silêncio.

Vamos então recordar um pouco da história de Gorge e dos Mestres do Silêncio, que vos contei à muitos capítulos atrás. São Sábios da Velha Ordem dos Cavaleiros do Poder que guardam os segredos dos Artefactos do Silêncio, cinco artefactos antigos, que segundo o Livro dos Elementos, guardam o poder do Intangível, aquele que está presente em todos e em tudo, mas que nunca materializamos e que só descodificado através do domínio da Linguagem do Silêncio. Eles são a pedra da Alma, o colar do Tempo, a máscara do Infinito, a adaga da Utopia e o Lenço da Magia.

Tendo por base as histórias dos Mestres Antigos, a pedra da Alma é capaz de ler as intenções escondidas, do subconsciente mais profundo de cada um. O Colar do Tempo é capaz de parar o Tempo e, segundo alguns, através de um poder superior, é capaz de fazer avançar e recuar o mesmo tempo. A máscara do Infinito é capaz de abrir portais entre mundos. A adaga da Utopia, reza a lenda, é capaz de filtrar todo o mal enraizado no coração de qualquer ser ou entidade viva transformando-a em energia benigna. Por fim, a lenda conta ainda que o Lenço da Magia é capaz de desvendar a magia escondida, sem que no entanto a consiga manipular.

O território de Gorge era uma ilha quase inexpugnável. Chegamos à ilha, como sempre, de balão de ar quente, mas para chegarmos às Fajãs do Silêncio teríamos de descer montanha abaixo e enfrentar quedas de água imparáveis, desfiladeiros  tornados quase invisíveis pela vegetação densa e descobrir trilhos à muito abandonados.

A nossa missão não passava por encontrar os artefactos, mas aprender com os Mestres do Silêncio o sentido do "nosso próximo caminho". Mas como uma coisa implicava a outra, encontrar e desvendar os artefactos faziam parte da lista de tarefas. Não sabíamos muito bem o que nos esperava, mas confiávamos em Lucile sem vacilar. Se nos tinha juntado e trazido até aqui, alguma intenção teria.

Apesar de tenebrosa, fizemos a descida sem sobressaltos. Todos já tínhamos ido a Gorge, mas nunca em conjunto. Já todos tínhamos tentado encontrar os artefactos, mas nunca havíamos conseguido um que fosse. Desta vez seria diferente, pelo menos esperava eu. Tínhamos connosco Lucile, e isso mudava tudo.

À nossa espera estava Alihas, Mestre do Lenço da Magia e um dos cinco guardiões das Fajãs do Silêncio. Já nos havíamos cruzado antes.

Fomos encaminhados para uma enorme gruta atrás de uma temível cascata. Alihas convidou-nos a sentar e perguntou:
- Bem vindo jovens Mestres. O que vos faz pensar que desta vez sois dignos de encontrar os artefactos do Silêncio e, dessa forma, dominar o poder do Intangível?
Lucile manteve-se em silêncio. Freyre respondeu:
- Sábio Alihas, nenhum de nós pretende dominar o poder do Intangível. De forma humilde, apenas procuramos perceber um pouco mais sobre cada um de nós junto da sabedoria dos Mestres do Silêncio.
O que Freyre partilhara pode parecer contraditório para vocês. Mas era assim que cada um de nós se sentia. Já tínhamos passado por tanto e ao fim de tantas escolhas e combates, cada um já tinha escolhido o seu caminho. Por agora só nos procurávamos perceber melhor enquanto Mestres.
Alihas sorriu e partilhou:
- Jovens Mestres, a maturidade e o caminho trouxeram-vos de volta a Gorge. Durante o meu treino o meu Mestre ensinou-me que para seres um guerreiro completo tens de ter a fé de um mártir, a coragem de um aventureiro, a força de um cavaleiro e a educação de um poeta. Cada um por si nunca lá chegariam, como equipa têm uma hipótese. Vão descansar, amanhã começamos.