"Os poderes da Pedra da Alma..." Diários do Guerreiro Nómada - Parte V


Tinham passado 3 dias desde que tínhamos chegado a Gorge. Os primeiros dias passamos a meditar, treinar as artes de orientação na bruma e no nevoeiro e a escalar. Precisaríamos de todas estas competências para os dias que se seguiam.

Alihas mandou-nos juntar:
- Os próximos dias serão dedicados a duas missões. Abraham e Edh irão em busca da Pedra da Alma, Freyre e Sam irão tentar chegar até ao Colar do Tempo. Sonny e Lucile ficarão comigo. Não peço que mos tragam, apenas quero que depois ensinem uns aos outros o que cada artefacto vos revelou.

Eu e Edh partimos rumo à Ponta dos Rosais, o lado mais a norte da ilha até às Ruínas de Orm, onde estaria, segundo os escritos, a Pedra da Alma. Freyre e Sam partiram para as Poças de Simodi, última localização conhecida do Colar do Tempo.

Escolhemos ir de barco, era a forma mais rápida de chegar à Ponta dos Rosais. Chegados lá, teríamos de escalar mais de trezentos metros até às ruinas. Estas ficavam a meio do enorme emaranhado de rochedos que dava forma à Ponta dos Rosais. Assim o fizemos.

Atracamos o barco e com a ajuda de algumas cordas fizemos a subida vertiginosa. Chegados às ruinas um estranho som apoderou-se das nossas mentes. Sem nos apercebermos perdemos os sentidos e caímos inanimados. Quando voltamos a nós uma figura feminina fitava-nos. Era Lucile. De repente aquele momento tinha ficado, no mínimo, estranho. Como é que Lucile havia chegado antes de nós. Teríamos estado assim tanto tempo inconscientes. O que viria a seguir foi uma das maiores revelações que alguma vez tive.

Lucile era a Mestre do Silêncio Guardiã da Pedra da Alma. Sempre o fora. As Ruínas de Orm eram apenas uma distração para despistar os incautos. A Pedra da Alma estivera sempre no centro do seu escudo, mesmo à frente dos nossos olhos.

Convidou-nos a sentar em posição de Lotus. Enquanto explicava os poderes da Pedra Alma. Revelou que um verdadeiro Mestre deve ser capaz de usar os poderes da Pedra da Alma sem ter de recorrer à mesma. Lembrou-nos que havíamos sido treinados a antecipar a intenções escondidas dos nossos adversários e a saber trazer ao de cima as contaminações e poderes mais profundos dos aprendizes que agora treinávamos enquanto Mestres. A Pedra da Alma apenas nos permite despertar um poder que todos temos, mas que nunca realmente potenciamos, o de ler as intenções escondidas do subconsciente mais profundo de cada um.

Depois desta introdução nos dias seguinte fizemos uma viagem meditativa a todos os momentos em que fomos treinados a ler o outro, a antecipar a sua mágoa, a prever a sua frustração e a calcular todo o bem ou mal que podia causar a si e aos que o rodeavam.

Surpreendentemente, nunca chegamos a usar a Pedra da Alma para nada. Na última noite antes de voltarmos, Lucile questionou-nos:
- Depois destes dias o que têm para ensinar aos outros?
Eu e Edh olhamos um para o outro. Edh sorriu suavemente e acenou-me com a cabeça. Eu respondi pelos dois:
- Mestre, hoje recordo uma das lições mais valiosas que nos ensinaste. Nunca conseguimos realmente ler o outro na totalidade, mas há uma matriz para desvendar parte desse labirinto. Para conseguires ler o outro, percebe que primeiro tens de trata-lo pelo próprio nome. Depois percebe os seus detalhes, presta atenção às perguntas que faz em vez de olhares para as respostas. Percebe como se revela no pessoal e no grupal e por fim, entende a cronologia da sua alma. Percebe para onde quer ir, mas se está preparado para voltar. Para terminar, não te esqueças que nunca serás capaz de ler quem não revela o seu nome.

Esta espécie de fórmula estava sujeita ao erro, mas como Mestre tinha sido a mais valiosa nos combates que havia travado e me haviam exigido ler o próximo.