"A seleção natural..." Diários das Terras do Gelo - Parte II


Terceiro dia por Terras de Rekiam. Achava que sabia o que era o frio, mas estava enganado. Não admira que estas sejam as Terras do Frio Eterno. As horas de luz também não são muitas, por isso todos os minutos que podemos aproveitar, assim o fazemos.

Hoje, Ivar iria levarnos até aos Fiordes de Akureyri, enormes escarpas esventradas pelo Mar do Manto Branco. Objetivo, ver um fenômeno único, só possível à noite, a Aurora Celestial...

Até aos dias de hoje ainda ninguém sabe muito bem como explicar o evento. Durante a noite, nesta época, o céu noturno é invadido por cores sombrias, garridas e belas. Entre verdes turvos e vermelhos flamejantes, o espetáculo de cores faz-nos perder no horizonte incandescente.

Acampamos no topo do Fiorde para melhor ver aquele espetáculo de singularidade. Desta vez não acendemos qualquer fogueira para que nada nos escapasse. Deitamo-nos e o momento apoderou-se de nós. Aos amarelos, seguiram-se os vermelhos extensos, até que o verde  luminoso tomou conta do céu.

O frio parecia não importar. No meio da intensidade, as conversas sobre o momento e o que fomos tomaram conta de nós. Foi então que Cleo revelou um pouco da sua história no calor do momento:
- Sabem amigos, a Aurora Celestial faz-me lembrar o fim da guerra, a paz depois do tempo de batalha. Faz -me lembrar que há esperança, a beleza, o depois... e que no fim... cabe-nos a nós voltar.
- E quem és depois desse fim? - perguntei
- Tornaste perigoso quando por cada batalha que perderes, por cada tempestade que ultrapassares, por cada confronto que ficares para trás, voltares melhor do que eras. A partir desse ponto, já pouco te afeta. E não se trata de frieza ou apatia. É apenas seleção natural.

Nesta noite cada um de nós tinha sido um  privilegiado pela "seleção natural".