Os cuidados a ter quando sobes a montanha – Diários das Terras do Gelo – Parte IV


Últimos dias por Terras de Rekiam. Antes de regressarmos, Ivar queria mostrar-nos Golfoss, também conhecidas como as Cascatas do Ouro. Em tempos existiu um mito de que a imponência e impenetrabilidade de Golfoss se devia ao facto de os Deuses lá terem escondido os seus tesouros em ouro. Por isso o seu nome.

Golfoss é um cenário majestoso, pujante, forte e que mostra a dualidade da beleza e brutalidade da Mãe Natureza.
Para chegar a Golfoss estamos a falar de uma aventura impossível. É preciso subir as montanhas glaciares de Golf (que significa ouro no dialeto local) e aventurarmo-nos pelos tenebrosos rápidos do rio Golf numa pequena barcaça. Uma pequena distração leva-nos à morte eminente. Chegados a uma fase mais suave do rio, atracamos, e depois seguimos caminho até às Escarpas do Ouro, de onde consegues observar a imponência de Golfoss. Para fazer tudo isto, precisamos de dois dias. Pelo caminho passamos por uma série de territórios penhados de salteadores e comunidades de ermitas que vivem isolados nas montanhas. Durante este caminho temos que negociar passagens e, em muitos casos, temos mesmo de subornar quem pelo caminho encontramos. Mas Golfoss merecia esta última e crepitante aventura.

Juntamos o material necessário e embarcamos rumo a Golfoss. Pelo caminho, logo na primeira subida, fomos parados por um grupo de guerreiro ermitas que patrulhavam a zona. Mesmo tendo sido maltratados, Ivar manteve a calma, e respeitosamente prestou a vénia. Explicou quem eramos e que os nossos fins eram pacíficos. Mesmo mantendo uma atitude austera, o líder dos guerreiros ermitas permitiu que passássemos.

Durante o caminho passamos por uma aldeia de ermitas a quem prestamos tributo com alguns dos alimentos que levámos e, por fim, subornamos um pequeno grupo de salteadores para que fingissem que nem estávamos ali. Estava então na hora de nos fazermos aos rápidos do Rio Golf. A partir daqui a viagem foi estranhamente pacífica.

Ao fim de dois dias de caminho a imponência de Golfoss fez com que tudo tivesse valido a pena. Que visão, que brutalidade, que imagem para ficar para sempre nas memórias mais épicas que tive na minha vida de aventureiro.

Antes de partirmos ficamos por ali mais uma noite. Pela madrugada dentro, já na companhia de uma fogueira para nos aquecer e iluminar, Cleo perguntou a Ivar.:
- Ivar, meu amigo, percebo que tivesses sido cordial com os guerreiros ermitas, mas não percebo porque tivemos de subornar os salteadores. Os 3 eramos suficientes para derrubá-los. Aproveitaram-se de nós. Porque é que cedemos?
Ivar sorriu e respondeu:
- Cleo, em nenhum momento cedi, apenas preveni tudo o que ainda posso vir a ser e a fazer por estas terras. Ouve o que te digo. Quando subires a montanha trata com gentileza e paciência quem se depara no teu caminho. Nunca sabes se não vais precisar do seu auxílio no caminho de volta.

A conversa durou horas. Entretanto fomos descansar. No dia seguinte levantamos acampamento, demos graças por aquela fantástica aventura e voltamos a casa.