"A Cidade da Cores e a Felicidade Neutra" - Diários das Neves Eternas – Parte I




Já há muitos anos que tinha o desejo espiritual de viajar até à região das Montanhas das Neves Eternas, também conhecida como Kirtipur.

É provavelmente a mais inóspita de todas regiões conhecidas. Alberga as maiores montanhas do mundo em altitude e é a casa de alguns dos mais incríveis clãs de guerreiros conhecidos, os Sherpas e os Naga. Os Sherpas são conhecidos pelos seus monumentais templos e pelas suas técnicas de combate noturnas. Os Naga são guerreiros conhecidos por atuarem na sombra, por não deixarem vestígios da sua ação. Contam-se histórias que são eles, que ainda hoje, na penumbra, permitem segura passagem a todos os peregrinos que buscam o caminho da espiritualidade em Kirtipur.

Kirtipur é ainda o berço de Uai, sacerdote que deu origem ao Uahíde, religião que professa a ligação inquestionável entre o homem e a natureza, defendendo que são um só na forma, na intemporalidade e no espaço.

Mas as histórias destes dois clãs de guerreiros e Uai ficará para depois.

Viajei com Lucy e Yber, meus antigos aprendizes e hoje Mestres da Ordem dos Cavaleiros do Poder como eu.  Na viajem para Kirtipur o nosso primeiro ponto de paragem foi Katmandu, Cidades das Cores.

Katmandu é um labirinto de templos, complexos residenciais por acabar e de pequenos negócios de rua. Tudo se encontra na Cidade das Cores. Mas Katmandu é acima de tudo a cidade das pessoas dos “sorrisos eternos”. Em cada rua, em cada recanto somos recebidos com graciosidade, com atenção, delicadeza e naturalidade. Apesar de estrangeiros, parece que fazemos parte. Os locais ficam felizes por nos verem.

Mas este dia tinha um plano definido. Conhecer Mestre Vijay, um dos mais importantes sacerdotes da Ordem dos Cavaleiros do Poder por estas paragens. Iria ser eles dar-nos teto nos próximos dias.

Durante o jantar desse dia, partilhamos a nossa estranheza pela forma como eramos bem recebidos em qualquer recanto de Katmandu. Vijay contou-nos então um dos segredos menos bem guardados da Cidade das Cores:
- Meus amigos, não estranhem a forma como vos acolhem por estas paragens. Em Katmandu ensinamos o princípio da “Felicidade Neutra”, idealizado por Uai há milénios.
Intrigado, questionei:
- E que se trata o princípio da “Felicidade Neutra”?
- Uai ensinou que se cada homem se limitasse a querer ser feliz, consegui-lo-ia com naturalidade. O problema está quando quer ser mais feliz que o seu próximo. Uai acreditava que a felicidade era de todos, era um estado de equilíbrio, o resultado da soma da melhor versão de cada um.