“No teto do mundo…” - Diários das Neves Eternas – Parte VII




O dia chave havia chegado, a subida final ao Annapurna. Para tornar o momento épico, decidimos fazê-lo de noite para conseguirmos ver o imponente nascer do Sol. Depois de todo o esforço destes dias, este não era apenas mais um momento, este era o momento.

À frente seguiu Naraian, depois eu, Lucy e Yber e por fim Vijay e Soto. Oriume ficou no acampamento para qualquer questão de emergência. Comparado com os outros dias, esta aventura foi relativamente calma.

Chegados ao topo ainda de noite, montamos guarda e esperamos pelo momento mágico do nascer do Sol no Annapurna. Passados breves minutos, ali estava o Astro Maior em toda a sua magnificência. Abraçamo-nos mutuamente. Quando foi a vez de Naraian me abraçar, deixei-me ficar. Era como se o seu abraço reconhecesse que tinha sido capaz de chegar ao “teto do mundo”.

Vijay convidou-nos a sentar e meditar enquanto ele entoava velhos mantras. Fechei os olhos e viajei por cada minuto destes dias. Lembrei-me de cada queda, de cada momento em que quis desistir, das dúvidas que já não me lembrava de ter e das novas lições que levava. Lembrei-me que ter coragem não significa não ter medo, que ser feliz não significa não ter dias maus.

Depois deste momento redigi estas palavras no meu Diário Simbólico:

“Chegar ao topo significa que de cada vez que caímos ou paramos não tivemos medo de voltar a parar ou cair outra vez. Significa que fomos capazes de nos levantar e voltar a afirmar a nossa resiliência. Significa que fechamos mais um livro e que nos preparamos para escrever outro, em que somos autores de uma história sobre o “Nós”.

Chegados ao topo, voltamos na descida à vida de todos os dias, às casas de chegada e partida numa ilusão de que fez sentido subir o nível. Acreditamos que uma causa maior esteve por detrás do nosso sacrifício, treino e entrega à causa.

Independentemente do real resultado do nosso trajeto, o que importa é se no momento da descida quem se aventurou contigo continua disposto a continuar a história.

Chegar ao topo significa apenas que és capaz de ver mais além. Ver mais além, significa perceber o horizonte que se segue. Encontrar o horizonte que se segue, significa que há mais um livro para começar a ser escrito. E nesta nova história escolhe sempre o “Nós”.