A escolha entre um trono ou uma escada - Diários das Terras de Ninguém - Parte IV




Sexto dia por Lublia, Terras Ninguém. Hoje teríamos uma das aventuras que nos fez vir até estas paragens, iriamos conhecer Dubria, a cidade dos Magos, onde o próprio Tito havia treinado os seus poderes da Magia da Cor antes de se juntar à Ordem dos Cavaleiros do Poder. Como já vos tinha contado, estava eu, Mestre Lyn, os meus aprendizes Tortuga e Sims, já Mestres da Ordem dos Cavaleiros do Poder e Eleph e Hermes, aprendizes de Lyn e também Mestres da Ordem.

Duria erguesse imponente colina abaixo num anfiteatro natural que termina na baía com o mesmo nome. A cidade é uma enorme fortaleza com muralhas com mais de uma dezena de metros de altura. No seu interior as ruas são completamente alinhados umas com as outras. A organização é extrema, dificilmente nos perdemos. O sistema de sinaléticas era de fácil interpretação. 

No centro da cidade erguesse majestosamente o Panteão da Magia, onde estavam enterrados os maiores Magos da região da Lublia. Para além de local de culto, o Panteão era também a Escola de Magos.

Para além de visitar a imponência de Duria, hoje iriamos visitar Guram, o Regente de Duria e amigo de Tito. O Regente por estas partes era uma espécie de rei, só que em vez de ser eleito de forma hereditária, o mesmo era eleito pelos seus pares, neste caso o Concelho Superior de Magos de Duria. Os aposentos de Guram eram no próprio Panteão, na ala Sul. 

Passamos o dia com ele. Mostrou-nos Duria e apresentou-nos o dia-a-dia de um Mago Duriano. Todos o respeitavam, mas para Regente, havia algo nele completamente diferente de todos os outros líderes tribais ou reis que havíamos conhecido. Guram caminhava serenamente nas ruas de Duria, não tinha guarda de proteção nem guarda de honra. As pessoas abordavam-no como mais um. Também não tinha sala do trono ou alguma espécie de espaço nobre onde fizesse exercer o seu poder. 

No final do dia convidou-nos a desvendar o inacreditável por do Sol Duriano. Sentamo-nos no velho porto naval com visão privilegiada sobre o horizonte. O som das gaivotas e corvos marinhos completava aquele momento de arte serena. Enquanto aguardávamos pelo momento chave, Lyn, curiosa, questionou Guram: 
- Nobre Mago, estranhei muito a forma como aqui em Duria assumes a tua posição de poder. Não vi nenhuma sala do trono, não vi nenhuma guarda de honra, só um homem e os seus momentos. 
Guram sem estranhar a reflexão de Lyn, devolveu a observação: 
- Que esperavas Mestre Lyn? 
- Depois de conhecer as tradições de Duria, as suas regras ancestrais, pensava que o Regente de Duria seria alguém menos acessível. E pelo contrário, vejo alguém que partilha o seu dia-a-dia com o mais comum dos comuns. 
- Tens razão Lyn. Duria é um território de muitas tradições, de regras ancestrais e ritos imutáveis. Mas não confundas a organização de Duria com a forma como vivemos. Quando és eleito Regente de Duria, elegem-te representante do povo, não o seu Rei. Elegem alguém que dá voz à organização que permite a liberdade de todos, não alguém de deve limitar o que quer que seja. Mas para perceberes o que te digo partilho contigo uma das principais lições que o meu Mestre me deixou. Num dia parecido como este, exatamente neste mesmo sítio, ele partilhou connosco a seguinte ideia: "Cada um luta pelo seu trono como se um dia se quisesse sentar nele. Prefiram antes a escada que vos continue a permitir fazer história. Entre ficar sentado a ouvir o passado escolhe o degrau seguinte e convida os outros a fazer caminho contigo. Dessa forma vais continuar a dar forma ao presente e ao futuro, dando sentido ao teu passado". 

Aquela máxima ficaria como um dos momentos desta viagem pelas Terras de Lublia. Entretanto o por do Sol fez a sua vénia final perante um dia quase perfeito.