Tentar não existe, só existe fazer - Diários das Terras de Ninguém - Parte III




Quinto dia por Terras de Ninguém, a incomparável Lublia. Nos primeiros dias conhecemos as histórias de Tito, Mestre da Magia da Cor e nosso anfitrião, a sua aldeia e os seus companheiros. Entre outros, visitamos Postana, a cidade dos Habitantes da Noite. Hoje o desafio que nos esperava era um mergulho nas tradições mais ancestrais de Lublia, o Festival dos Ciprestes, onde a dança de Lublizia era a rainha. 

Como nos indica o nome do próprio festival, a sua casa era a Floresta dos Ciprestes do Mar, na região de Split, na costa de Lublia. Lançar a Lublizia era para o povo de Lublia uma experiência metafísica. Feita a pares e a um ritmo alucinante, quando um par inicia a dança inicia uma espécie de competição com os pares à sua volta. Neste momento um transe coletivo apoderasse de todos e, segundo a tradição, os nossos antepassados voltam para dançar connosco. Parecia um bom programa. 

Chegados à Floresta dos Ciprestes do Mar demos de caras com Miro, ancião dos Habitantes da Noite. O evento era tão importante que todas as regiões de Lublia se faziam representar pelos seus líderes. Aí o porque de também Miro estar presente. 

Fomos apresentados a Doriti, Mestre das Cerimónias do Festival que nos ensinaria a dança de Lublizia. Sem delongas questionou-nos: 
- Quem vai ser o voluntário que vai fazer de meu par? 
Todos se afastaram. Depois das exibições inacreditáveis que tínhamos visto, estávamos um pouco receosos. Os olhos de Doriti apontaram na direção de Tortuga. De forma amedrontada, Tortuga fez-se ouvir: 
- Posso tentar. 
Perante as palavras de Tortuga, Doriti virou costas e retirou-se. 
Sem perceber muito bem o que havia acontecido, Eleph questionou Tito: 
- Mestre Tito, que aconteceu? 
Tito não parecia surpreendido. Perante a questão de Eleph respondeu: 
- Meus amigos, tenho a certeza que os vossos Mestres já vos ensinaram que tentar não existe. Só existe a ação, o fazer. Depois existe o resultado, que pode ser bom ou mau. Tentar foi uma desculpa que alguém inventou para o desafio que nunca quis enfrentar

De facto, todos aprendemos como aprendizes da Ordem dos Cavaleiros do Poder que tentar não é uma possibilidade, é apenas inação. Mas no calor da pressão todos cedemos. Procuramos novamente Doriti, lamentamos o sucedido e pedimos outra oportunidade. O que se seguiu foi um momento de harmonia, alegria e superação. No final dia, já depois do Festival, à volta da fogueira enquanto ceávamos, todos relembramos, com muita boa disposição, algumas das desculpas que havíamos usado só para "não existir".