À procura do verdadeiro Mestre - Diários da Quase Verdade - Parte II




Era o meu terceiro dia em Balos. Como já vos tinha contado, por estes dias estava com o meu clã mais antigo de aprendizes. Eram dias dedicados ao retiro espiritual, ao reencontro e ao treino da ligação do nosso Cosmos ao Ki (ou chi), a energia vital que liga todo o universo vivo. 

Hoje tinha tirado o dia para caminhar sozinho. Queria ver um fenómeno que em Balos apelidam de Solirium. Acontece numa hora específica, quando o sol atinge o seu apogeu e se projeta na água em tons rosados. Acontece na baia de Galatos. Nessa altura, sem que alguém ainda tenha encontrado qualquer explicação, juntam-se dezenas de orcas que se fazem ouvir a quilómetros de distância numa sinfonia apaziguadora e distante. É um espetáculo místico e quase inacreditável. 

Eram algumas horas de caminho. As primeiras duas horas foram silenciosas e reconfortantes. A determinada altura cruzei-me com um estranho que me abordou: 
- Bom dia senhor. Pode-me indicar se estou no rumo certo para Samaria. 
- Bom dia viajante. Sim, está no caminho certo. São apenas mais um par de horas. 
- Obrigado. Já agora, estou a falar com...? 
- Abraham de Ethérnia. E o nobre viajante, quem é? 
- O meu nome é Dolitus, estou em retiro. 
- Fico feliz por si. Também cá estou em retiro com alguns amigos.- ripostei. 
Aquela estranha abordagem continuou. Dolitus contou-me que procurava um verdadeiro Mestre, acontecimento que considerava ser raro. Argumentava que já havia viajado meio mundo e nunca o tinha almejado. Esta era mais uma etapa dessa longa viajem. Ouvi atentamente a sua história, mas não emiti qualquer pergunta. No meio do seu quase monólogo questionou-me: 
- E tu, Abraham de Ethérnia, o que procuras no teu retiro por terras de Balos? 
- Foi estranho ouvir a tua história, porque fiz este retiro para encontrar um verdadeiro aprendiz. 
Depois deste comentário sorri e prossegui viagem. O viajante do acaso, Dolitus, ficou estático durante algum tempo, mas depois perdilhe a vista. Nao podia perder mais tempo, queria muito ver o Solirium. 

Cheguei a Baia de Galatos pouco antes do momento Solirium se iniciar. Sentei-me e deixei que aquele momento mágico tomasse conta de mim. No meio dos meus devaneios, voltei a lembrar-me de Dolitus e da sua busca pelo verdadeiro Mestre. Lembrei-me da resposta que lhe dei e questionei-me se ele havia percebido a minha mensagem. Traduzindo o que queria dizer: Quando descobrires que serás sempre aprendiz, o Mestre que precisas surgirá. 

Entretanto era hora de voltar ao acampamento.