A razão por detrás da quase verdade - Diários da Quase Verdade - Parte IV


Estávamos nos nossos últimos dia em Balos, a ilha da antiga Deusa Nore, também denominada como a mãe dos oceanos. Viajei com o meu mais antigo Clã de Aprendizes. Como já vos tinha contado, estes eram dias dedicados ao retiro espiritual, ao reencontro e ao treino da ligação do nosso Cosmos (o nosso universo simbólico interior de onde emergem os nossos poderes) ao Ki (ou chi), a energia vital que liga toda a vida conhecida. 

Depois de dias de intenso treino, reflexão e introspeção faltava um último momento. Pretendia levar o grupo até ao Templo de Hania, uma construção milenar onde poderíamos conhecer Lomera, o chamado Mestre da Verdade Escondida. Pretendia que cada um dos meus Aprendizes compreendesse a verdadeira dimensão do seu Ki e como este se refletia no seu dia a dia, nas suas relações e no exemplo que cada um deles pensava ser. Para tal, cada um participaria no Círculo Branco, exercício de reflexão conduzido por Mestre Lomera, onde cada um era confrontado com as suas supostas conquistas e responsabilidades. 

No centro do círculo cada um colocaria a sua arma de combate. Depois, estas eram soterradas em areia até ao fim do exercício. Só as receberiam de volta se superassem a avaliação criteriosa de Lomera. 

Todos estavam assustados, mas revelavam uma atitude humilde e disponível. Um a um iam ao centro. Na sua vez, cada Aprendiz expôs a sua experiência, a forma como via o seu papel de Mestre e Aprendiz e relatava os feitos que havia protagonizado para transformar positivamente a realidade que conhecia. Lomera era incisivo nas perguntas, em alguns casos até cruel. Alguns ficaram a perceber a pequenez do seus feitos, outros que nada haviam feito na realidade. No final, perante o julgamento de Lomera e os seus padrões, não importava o tamanho do que fazias, importava a verdadeira razão que estava por detrás das tuas escolhas e ações. No fim contava se encaravas e admitias essa mesma razão ou razões. 

No final da sua brilhante dissertação, Lomera deixou duas ideias que desmistificavam muitos dos nossos comportamentos e opções de vida: 
- Caros Mestres e Aprendizes, que hoje sirva para um novo começo. Não para o que fazem, mas para a verdade da razão vos leva a que o façam. Não importa a quantidade ou o tamanho de caminho que fizeram, importa se o que fizeram era real para vocês e para os que se cruzaram no vosso caminho. Hoje quero partilhar convosco a mais simples quase verdade. Na realidade, nunca controlaram nada. Apenas viveram na expectativa que o vosso plano funcionasse. E todos os planos que fizeram foi para voltarem a encontrar quem, onde e o que vos faz felizes...