O compromisso, a intuição e o instinto - Diários da Quase Verdade - Parte III



Dia cinco por terras de Balos. Hoje decidi levar o meu grupo de aprendizes até Elafonisi, a praia mais remota de Balos. As suas areias são cor de rosa e o azul das suas águas é o mais claro que alguma vez verão. 

Porquê Elafonisi? Primeiro pela aventura de lá chegar. Teríamos de passar todo o desfiladeiro de Samaria, o que levaria meio dia. Não é qualquer um que é capaz de desvendar a passagem por entre o labiríntico desfiladeiro. É uma prova de esforço e orientação. Segundo, porque as águas de Elafonisi são mágicas. Evocando determinados códices ancestrais do Livro dos Elementos em forma de canto é possível, durante o mergulho nas águas de Elafonisi, perceber que intenções guardadas esconde o nosso instinto. Estas surgem sobre a forma de memórias ou imagens premonitórias. Com esta viagem pretendia que cada um deles equilibrasse o seu instinto e a sua intuição, percebendo que memórias ou desequilíbrios mais negros lhe estavam a distorcer a capacidade de usarem a sua intuição e instinto da forma mais assertiva. 

O caminho foi feito sem grandes percalços, embora estivessem todos muito cansados. Chegados às imediações de Elafonisi ficamos estupefactos. A beleza do lugar superava as lendas. Perante nós erguiam-se lagoas imensas por entre o mar imenso divididas por emaranhados de rochas púrpuras. As águas eram de um azul limpo e inalcançável. 

Deixei que repousassem por alguns momentos. Montamos acampamento. Pernoitaríamos por ali. Entretanto, esperei pelo crepúsculo, e enquanto o Sol se punha convidei-os a mergulhar nas águas de Elafonisi. 

Iniciei o canto dos velhos códices. Um a um foram mergulhando. Passados alguns minutos a primeira a vir à tona foi Giray, a segunda Leo, depois Yber. Um a um foram voltando. Já com o Sol posto, de fogueira acesa e com todos reunidos, pedi a cada um que partilhassem o que haviam um sentido, visto e experienciado. Lucy, em lágrimas, falou da morte de alguém que lhe era muito caro. Milnar abordou a sua tendência para o isolamento. Eclipse, por sua vez, falou do medo da solidão e o medo da ausência de reconhecimento por parte de quem amava. Um a um foram contando o que haviam passado. Tortuga foi a última a partilhar e falou do amor mal resolvido. No fim da sua intervenção questionou-me: 
- Mestre, partilhamos o que nos desiquilibra, o que nos faz limitados e finitos. Reconheço que o nosso instinto na sua versão mais negra pode ser perigoso. Mas depois do que nos revelaste onde queres realmente chegar? 
- Obrigado pela pergunta, minha boa amiga. Apesar do que recordaram ou descobriram, vocês são o exemplo. Têm a noção do vosso instinto e da necessidade de o equilibrarem e aí, surge a maturidade da vossa intuição a permitir que voltem ao caminho do compromisso. Resumindo, o instinto e a intuição conhecem o equilíbrio quando não tens medo de assumir o compromisso

Depois daquela noite passamos mais dois dias a treinar em Elafonisi técnicas de combate e orientação. Era altura de agora ir conhecer os Templos de Hania. Mas isso é uma história para o próximo diário.