Estou de volta ao Arquipelago de Milenia, a minha casa do coração. Os próximos dias serão para treino, mas desta vez, na companhia do silêncio da minha alma. Por norma, nunca treino sozinho, mas desta vez, achava eu, tinha de ser.
Não sabia muito bem ao que vinha, apenas sabia que tinha de estar aqui, o resto, a magia deste lugar faria acontecer. Pelos lugares onde parasse faria do meu diário simbólico o companheiro das mensagens que queria partilhar com o mundo.
O primeiro ponto de paragem seria a Lagoa das Visões. Aliás, o principal ponto de paragem. Fazia questão de ir lá várias vezes ao ano. Era onde habitava a minha magia nativa, era o espaço, que na Ordem dos Cavaleiros do Poder, chamamos de Casa Simbólica.
Cada Mestre da Ordem tem o seu refúgio onde descansa a sua alma desgastada, onde revive a magia que o faz sentir, a sua Casa Simbólica, a minha era a Lagoa das Visões.
Cheguei com o Sol a pôr-se e numa mescla de lágrimas e alegria, resgatei o meu diário e deixei que o magnetismo da Lagoa desse forma às primeiras palavras.
Naquele momento só me lembrava de todas as histórias de amor e cumplicidade que haviam importado e, de alguma forma, tinha deixado por fechar. Duas em particular vieram-me à memória. No meu diário deixei estas palavras.
"Há histórias e momentos que se fecham por si mesmos, nós é que não fomos capazes de entender. Era como se exigíssemos a nós mesmos o dever de redigir a ultima página do livro.
Existem histórias, pessoas, privilégios e sentimentos que partirão, permitindo do nada a solidão da ausência. Lembra-te que o momento seguinte já serás só tu e o vazio que achavas que não precisavas de preencher. Perante esta jornada deixa-los partir, ir atrás só fará com que doa mais. E mesmo que no futuro se voltem a encontrar, lembra-te que já fechaste o velho livro, esta história faz parte de páginas ainda por ler."