Quinta parte dos meus diários de horizonte curto e imediato a que dediquei o nome de Diários da Pele. Se vos parece confuso, o nome apenas difere do facto de achar que "os sinto na pele" enquanto "mudo de pele". Mas voltando à escrita dos dias que me fazem, hoje recordo a última conversa que tive com a minha aprendiz Maty.
Por estes dias Maty perguntava-me:
- Mestre, no final gostamos sempre de sentir que fomos algo de especial. Que de alguma forma fizemos sentido. Também te sentes assim?
- Minha cara Maty. Todos gostamos de ser especiais, de procurar fazer sentido na história incompleta dos nossos dias. E sim, também me sinto assim. Aliás, não me lembro de quando não me senti assim.
- E porque o procuras?
- Procuro-o para perceber o que fui capaz de aprender. Procuro-o para perceber que montanha fui capaz de escalar até ao fim e para perceber o impacto de todas as batalhas que travei.
- E quando sabes que não foste especial?
- Procuro quem foi especial para aprender de novo, para recomeçar a subida que deixei a meio.
- E se mesmo assim falhares outra vez?
- Falhei. O que significa que posso voltar a começar e voltar a falhar. Em algum momento serei especial outra vez. É só não deixar de plantar. Em algum momento, na minha liberdade, voltarei a colher. Mas lembra-te, não queiras ser especial só no fim, o "durante" é o verdadeiro sentido da montanha que escolhemos subir.